Sua escola já recebeu alunos autistas? Você sabe como oferecer uma educação de qualidade a esses estudantes de forma acolhedora, igualitária e correta?
O transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio bastante comum, que atinge milhares de crianças no Brasil — e todas elas têm direito a uma educação inclusiva e de qualidade.
Por isso, sua escola de educação básica precisa estar preparada para acolher esses estudantes. Continue a leitura e entenda mais sobre o assunto:
- A importância de inclusão e adaptação escolar para alunos autistas
- Como receber um aluno com autismo na escola
- Boas práticas e atividades para alunos autistas em sala de aula
- TEA na escola: orientações para trabalhar a inclusão de uma criança atípica na rotina escolar
A importância de inclusão e adaptação escolar para alunos autistas
Atender uma criança atípica é um dever legal de qualquer escola. No caso específico, a Lei Berenice Piana (lei n.º 12.764, de 27 de dezembro de 2012) garante o acesso à educação e ao ensino profissionalizante para pessoas com transtorno do espectro autista.
Mas a inclusão de alunos autistas vai além do dever legal. Ela é um compromisso que toda instituição de ensino deve abraçar, como parte de sua missão de educar com qualidade e igualdade.
Ou seja, uma escola realmente diversa e inclusiva precisa ter em como princípio o fato de que toda criança — atípica ou não — merece receber o melhor ensino disponível. Só assim é possível criar uma educação democrática e construir uma sociedade mais acolhedora.
Leia mais: O que é educação inclusiva e qual a sua importância para as escolas?
Para oferecer essa realidade a alunos autistas, deve-se fazer uma adaptação escolar, de modo a oferecer a eles a possibilidade de aprender no mesmo nível que os demais estudantes, enquanto mantém seu bem-estar e sua formação humana e acadêmica.
Esse cuidado é parte fundamental do sucesso de uma escola de educação básica e certamente marcará o futuro de muitos alunos.
Como receber um aluno com autismo na escola
Para acolher um aluno autista, preste atenção em dois elementos essenciais: aprendizagem e bem-estar.
No quesito aprendizagem, considere que uma criança ou adelescente com transtorno do espectro autista deve receber um ensino de qualidade, com o mesmo conteúdo passado aos demais. O foco é garantir uma formação plena, além de prepará-lo para a vida adulta e ao mercado de trabalho em pé de igualdade.
Ao mesmo tempo, o bem-estar é fundamental para manter a saúde mental do estudante e ajudar em sua formação socioemocional. Esse quesito envolve acolhimento, adaptação escolar e, principalmente, respeito.
Vale lembrar que os elementos funcionam de forma integrada. Por exemplo, um aluno com maior bem-estar tem maiores chances de absorver o aprendizado de forma completa.
Organizamos uma lista com as principais orientações que sua escola pode seguir para se preparar e receber alunos autistas.
Entender melhor o Transtorno de Espectro Autista (TEA)
O senso comum a respeito do autismo é muito limitado e, por vezes, equivocado. Por isso, o primeiro passo para acolher esses estudantes é estudar e compreender o TEA de verdade.
Pesquise o assunto e entenda como esse transtorno pode influenciar no dia a dia de uma criança ou adolescente. Além disso, estude como ajudar a prepará-los para uma vida adulta plena, feliz e bem-sucedida.
Leia também sobre como falar com indivíduos autistas e fazer referência a eles de maneira humanizada e com respeito pela sua inteligência e autonomia — sem condescendência, paternalismo ou pena.
Contar com apoio de profissionais de saúde pode ajudar muito nesse sentido.
Conversar com os pais e responsáveis e conhecer melhor as características do aluno
Estabelecer uma parceria com a família do aluno, com um canal aberto de comunicação, é fundamental. Afinal, vocês estarão trabalhando juntos para oferecer a melhor formação a essa criança ou adolescente.
Veja que tipos de terapia ou estímulos ele já está recebendo e entenda, com os pais e responsáveis, como a escola pode acolhê-lo.
Além disso, compreenda que o transtorno tem diferentes níveis e pode ter consequências distintas em cada pessoa.
Alguns indivíduos têm ecolalia (hábito de repetir palavras ou sílabas), muitos têm a tendência de aprender melhor com recursos visuais, outros ainda têm dificuldades motoras, ou incômodos com sons ou luzes.
Ao conversar com os pais, busque descobrir as especificidades de seu aluno e como acomodá-las da melhor maneira.
Por fim, lembre-se de manter um contato constante com a família.
Falar com o próprio aluno
Respeitar a inteligência e a autonomia do aluno é parte central do acolhimento que sua escola deve fazer. Por isso, converse com ele, busque conhecê-lo e mostre que a escola está totalmente aberta para quaisquer dúvidas e necessidades.
Esse contato vai fazer o estudante sentir-se respeitado e valorizado, além de ajudar a escola a saber como pode ajudá-lo a evoluir na aprendizagem.
Receber a criança antes para que ela possa conhecer os ambientes e a rotina da escola
Uma ótima prática é apresentar os ambientes da escola para aluno, pais e responsáveis previamente. Assim, você cria maior segurança para todos e permite que o estudante se familiarize com a instituição em um momento de tranquilidade.
Preparar a equipe escolar
Sua equipe de gestão pedagógica e seus professores também precisam se preparar para acolher esse novo estudante, fugindo do senso comum e abrindo-se para aprender e oferecer um ensino de qualidade para ele.
Isso sem “tratamento diferenciado” para o aluno autista. Faça apenas uma adaptação das práticas escolares para melhorar o processo, além de um acompanhamento para garantir o bem-estar dele.
Orientar os demais estudantes sobre como acolher alunos autistas
Muitas vezes, crianças e adolescentes podem ser intolerantes ou apenas inconvenientes com pessoas que são diferentes. Por isso, vale a pena prepará-las previamente para receber o colega atípico.
Explique para eles que é comum crianças com transtorno do espectro autista evitarem contato visual, não emitirem som, não responderem ao serem chamadas, etc. Afirme que isso tudo é normal e mostre formas com que os estudantes podem acolher essa pessoa.
Lembre-se de deixar claro, também, que o aluno autista não é um “coitadinho” que precisa de cuidado.
Ele é um estudante com algumas peculiaridades, mas, no que realmente importa, é uma pessoa como as demais.
Cada indivíduo tem suas próprias diferenças e, no caso de um aluno autista — assim como outras crianças atípicas — essas diferenças apenas podem aparecer de forma mais acentuada.
Ensine a seus alunos que é importante não tratar diferente, e sim acolher. Abraçar a diferença e conviver nessa diversidade que nos enriquece.
Boas práticas e atividades para alunos autistas em sala de aula
A partir do momento que você recebeu esse novo estudante, é importante pensar em práticas de adaptação escolar que permitam que ele tenha uma aprendizagem de qualidade.
Organizamos dez dicas fundamentais para isso. Confira:
- Não separar os alunos autistas dos demais
Todo mundo sabe que não se deve discriminar — mas às vezes a gente esquece que isso envolve também não separar pessoas diferentes, mesmo que essa separação seja feita com “boas intenções”.
Se você quer acolher uma criança atípica, permita que ela faça parte do grupo, com o mesmo conteúdo e com estímulo à sensação de pertencimento.
É claro, é preciso adaptar a forma de aprendizagem, mas isso deve ser feito de forma respeitosa, sempre ouvindo o que o aluno tem a dizer.
- Adaptar a forma de passar o conteúdo
Anteriormente, discutimos a importância de entender as especificidades de cada aluno. Muitos autistas, por exemplo, aprendem melhor com estímulos visuais. Se isso for o caso, o professor pode reforçar as lições com imagens, orientações claras e recursos visuais.
Da mesma forma, não se deve dar instruções verbais muito longas — nisso, os alunos autistas são semelhantes a estudantes com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
Leia mais: Como sua escola pode ajudar alunos com TDAH.
Em resumo: busque entender as demandas de seu aluno e ensinar de forma adequada para ele.
- Adaptar a sala e a rotina escolar de acordo com as necessidades do estudante
A adaptação do ensino também deve envolver o ambiente. Entenda como são as reações do estudante a luzes, imagens e barulhos, e busque deixar o espaço da sala de aula — e da escola — mais acolhedor para ele.
- Respeitar limites e não forçar a normatividade
Este ponto é fundamental: entenda que o autismo não é um “defeito” que a escola vai “corrigir”. Ele é parte da identidade do estudante e deve ser compreendido e respeitado.
Nada de tentar forçar um aluno não-verbal a falar, por exemplo. Entenda seus limites e saiba como ajudá-lo a aprender e se relacionar com os colegas, mas de forma não traumática.
Para saber esses limites e se portar de acordo, vale a pena contar com ajuda dos pais e, se possível, dos profissionais de saúde que atendem esse estudante.
- Entender os interesses do aluno e aproveitá-los
Muitos alunos autistas têm a tendência de se interessarem intensamente por assuntos específicos. Se a escola estiver aberta para conhecer esses interesses, é possível utilizá-los para turbinar a aprendizagem.
Por exemplo, se a criança gosta de dinossauros, atividades que envolvam o tema receberão muito mais engajamento — além de serem uma oportunidade para ela mostrar seus conhecimentos, o que é ótimo para a auto estima e até para a integração com os colegas.
- Trabalhar metodologias ativas de forma respeitosa
As vantagens das metodologias ativas também valem para alunos autistas e são excelentes formas de incentivar e praticar sua autonomia.
No entanto, elas devem ser adaptadas para acolherem as necessidades específicas do estudante. Alunos que têm uma dificuldade muito grande de se expressar não devem ser forçados a participar de um debate, por exemplo — o processo deve ser gentil e compreensivo para não se tornar traumático.
Leia mais: Metodologias ativas de aprendizagem: saiba o que são e como incluí-las em sua escola
- Promover atividades coletivas
Brincadeiras e outras atividades lúdicas fazem parte do dia a dia de uma escola de educação básica e certamente estão em suas salas de aula, não é?
Se você tiver um aluno autista, é preciso repensar essas atividades de forma coletiva, para que permitam a integração dele de uma forma com que ele não se sinta excluído ou inferior aos demais.
Isso envolve evitar algumas competições e dar preferência a brincadeiras que não entrem em conflito com suas dificuldades.
- Considerar a forma de fazer a avaliação
Em alguns casos, provas tradicionais podem sair do escopo das habilidades de um aluno autista, e isso pode promover mais divisões e queda na produtividade desse estudante.
Mas, como comentamos antes, não devemos separar os alunos. Então que tal fazer uma avaliação mais humanizada para todos?
Entendendo as particularidades de cada aluno e focando em sua evolução — e não apenas no diagnóstico — suas provas podem ser muito mais produtivas.
Leia mais sobre o assunto: Tudo sobre avaliação escolar: melhores práticas no processo avaliativo, objetivos e análise de resultados.
- Pensar na formação do estudante para o futuro
A escola tem a importante função de preparar seus estudantes tanto para a vida em sociedade quanto para o mercado de trabalho — e o mesmo vale para alunos autistas.
Busque pensar no longo prazo: como suas lições ajudarão essa criança ou adolescente a se tornar um adulto pleno, feliz e satisfeito?
Um ponto fundamental para isso é desenvolver as competências socioemocionais — esse processo é importante para qualquer um, mas ganha um destaque especial quando tratamos de crianças atípicas.
Ajudá-las a expressar melhor seus sentimentos e se relacionar com os outros é uma ótima maneira de prepará-las para o futuro.
- Ouvir o aluno
A última dica é a principal chave de sucesso no relacionamento com uma criança atípica: saiba ouvi-la!
Quando você respeita a autonomia de seu estudante e o respeita como um ser humano, você pode ter uma visão muito mais correta e efetiva de como ajudá-lo em seu desenvolvimento e aprendizagem.
Por isso, pratique a escuta ativa constantemente.
TEA na escola: orientações para trabalhar a inclusão de uma criança atípica na rotina escolar
Além da preparação em sala de aula, é preciso manter uma atenção humanizada também na gestão pedagógica como um todo.
Para isso, busque conhecer bem seu aluno e mantenha um acompanhamento constante com ele. Chame-o para conversar, fale com os professores e tente saber como está sua evolução e seu relacionamento com os colegas.
Ao mesmo tempo, conscientize sua comunidade escolar e sua gestão pedagógica, trocando experiências e leituras sobre como oferecer o melhor ensino a esses estudantes. Com isso, desconstrua falácias, como a de que os alunos autistas seriam menos capazes do que os demais.
E lembre sempre sua equipe: eles não são “coitadinhos”. São alunos capazes, que merecem respeito e autonomia .
Leia mais: Como ensinar e praticar a cidadania na escola?
Por fim, lembre-se de manter sempre aberto o canal de comunicação com os pais e responsáveis. Essa parceria é fundamental para você ter uma educação mais inclusiva e acolhedora para alunos autistas.
Carla Helena Lange
Líder de Marketing