Lidar com o bullying na escola é um dos principais desafios que uma gestão escolar precisa enfrentar. Isso porque a violência e a humilhação presentes nesse tipo de abuso podem ser muito prejudiciais tanto para a aprendizagem e o desenvolvimento de seus alunos quanto para a própria escola.
Afinal, sabemos que quando o estudante sente-se seguro e acolhido no ambiente educacional, ele aprende melhor, seu desenvolvimento humano é mais completo e as chances de evasão escolar são muito menores.
O bullying escolar coloca tudo isso em risco, prejudica a experiência educacional e social de uma criança ou adolescente, além de ser um perigo para sua saúde mental.
Por isso, preparamos orientações práticas para gestores lidarem de forma eficaz com o problema. Continue sua leitura e entenda o que é, quais são os verdadeiros riscos e como evitar o bullying nas escolas.
Gestores escolares experientes sabem que crianças e adolescentes em idade escolar muitas vezes têm comportamentos agressivos e até ofensivos.
Discussões e brigas fazem parte do desenvolvimento humano e da realidade educacional, e podem ser trabalhadas com tranquilidade para que seu ambiente escolar permaneça positivo.
No entanto, a situação muda quando as agressões se tornam recorrentes, constantes, intimidadoras e constrangedoras, tendo um aluno específico — ou alguns alunos — como alvo. Ou seja: quando você começa a lidar com práticas de bullying na escola.
Bullying é um termo em inglês, que pode ser traduzido como intimidação violenta ou assédio moral.
Ele se diferencia das brigas normais pela sua consistência e intencionalidade. Em vez de uma agressão isolada, o bullying na escola envolve um abuso sistemático e contínuo contra pessoas específicas.
Esses alvos acabam sentindo-se excluídos da vida social escolar e inseguros com as características que os fizeram alvos dos agressores — que podem ser de aparência, comportamento, classe social, etnia, etc.
O conceito é sério e está presente na legislação brasileira por meio da Lei nº 13.185, de 6 de novembro de 2015, que instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) no país.
De acordo com a Lei, o bullying se caracteriza “quando há violência física ou psicológica em atos de intimidação, humilhação ou discriminação”.
A legislação menciona ainda que essa forma de intimidação sistemática pode envolver:
Além disso, a lei reconhece também a existência de cyberbullying, como uma “intimidação sistemática na rede mundial de computadores”.
Nesse sentido, a legislação identifica diferentes tipos de bullying. Essa divisão é importante para ajudar sua escola a entender o que está enfrentando e saber como lidar melhor com cada caso.
Mas lembre-se de que, na maior parte das vezes, diferentes tipos de bullying escolar acontecem ao mesmo tempo — ou podem evoluir de violências verbais para físicas, por exemplo. Então, busque identificar essas práticas em sua escola.
Segundo a legislação, o bullying verbal envolve insultos, xingamentos e apelidos pejorativos.
Essa forma de violência é uma das mais comuns nas escolas e quando enquadra-se nas características de bullying — sendo constante, sistemática, humilhante, etc —, pode levar a sérios problemas de saúde mental.
O bullying moral, por sua vez, diz respeito às ações de difamar, caluniar e disseminar rumores sobre a vítima.
Esse abuso é imensamente prejudicial, aprofunda a exclusão social da vítima e impacta suas relações interpessoais, sua autoestima e muito mais.
Neste ponto, a lei trata das práticas de assédio, indução e/ou abuso sexual. Esse é um risco sério no ambiente escolar e precisa receber a atenção devida de sua gestão pedagógica.
Outra característica muito comum no bullying na escola é a rejeição social da vítima. Os agressores ignoram, isolam e excluem seus alvos das relações sociais escolares — e incentivam outros estudantes a fazerem o mesmo.
Isso cria uma barreira que separa a vítima das outras pessoas e ajuda a criar uma sensação de que o bullying é inescapável.
Todas as outras ações impõem uma grande carga psicológica às vítimas, mas a legislação identifica ainda ações que são diretamente vistas como violência psicológica.
São elas: perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, manipular, chantagear e infernizar. Tudo isso está presente em práticas de bullying na escola.
A violência física muitas vezes é a mais evidente, e envolve ações como socar, chutar e bater na vítima.
Mas vale lembrar que, em casos de bullying escolar, o agressor tende a realizar violências físicas apenas quando não há professores, pedagogos ou outros adultos por perto.
Ao mesmo tempo, ele pode usar de outras formas de violência para oprimir a vítima e levá-la a não denunciar os atos — e até a esconder as marcas que a agressão pode deixar.
O bullying material envolve furtar, roubar ou destruir pertences da vítima. No ambiente educacional, isso pode envolver o material escolar, as roupas ou outros itens pessoais.
Este é o último tipo de bullying mencionado na legislação. Segundo a Lei, ele envolve: “depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade, enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e social”.
Na prática, é um abuso sistemático por meio da internet e das redes sociais — ambientes cada vez mais usados e integrados à sociabilidade de crianças e adolescentes.
Por isso, o cyberbullying merece uma atenção especial, principalmente por ter uma característica de “inescapável”.
Enquanto o aluno pode “desligar-se” da agressão do bullying tradicional ao sair da escola, a violência digital o persegue onde quer que esteja por meio das redes sociais.
🔎 Leia mais: Como a gestão escolar deve lidar com o cyberbullying.
Quase 38% das escolas brasileiras admitem enfrentar problemas de bullying. É o que aponta o 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e divulgado em 2023.
Já a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2019, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que 23% dos estudantes dizem ter sido vítimas de algum tipo de bullying nos 30 dias anteriores ao questionamento.
A PeNSE aponta também os principais motivos para a agressão: a aparência do corpo aparece em 16,5%, a aparência do rosto em 11,6% e a cor ou raça em 4,6%.
A pesquisa ainda levanta o impacto desse tipo de violência sistemática. 21,4% dos alunos ouvidos afirmaram que a vida não valia a pena ser vivida. Já 50,6% disseram que sentem-se preocupados com coisas comuns do dia a dia.
Segundo a PeNSE, há ainda impacto na satisfação dos estudantes com seus próprios corpos. 49,8% — menos da metade dos entrevistados — disseram que acham seu corpo normal. 28,9% se acham magros ou muito magros, enquanto 20,6% disseram se considerar gordos ou muito gordos.
Os efeitos negativos do bullying escolar não são surpreendentes. Afinal, como sabemos, a escola costuma ser o primeiro e principal espaço de socialização para a maioria das crianças e adolescentes.
A transformação desse ambiente em um espaço de sofrimento é um golpe muito sério para o desenvolvimento de um jovem — um golpe que pode parecer inescapável.
Um aluno que sofre bullying por muito tempo vê a si mesmo como inadequado para o convívio social. Ele passa a acreditar nos abusos que ouve dos colegas e reforçar o próprio isolamento, fechando-se para amigos, professores e familiares.
E, para piorar, o bullying na escola é um problema silencioso. Seja por causa de ameaças dos agressores, seja devido aos problemas psicológicos advindos da agressão, a vítima raramente denuncia as violências sofridas.
Nesse cenário, os resultados podem variar, mas entre os problemas mais comuns estão:
Na prática, o bullying pode roubar a alegria de uma criança, impactar seriamente o futuro de um adolescente e, em casos extremos, é capaz de levar até ao suicídio.
E o impacto negativo não é apenas para as vítimas. Em uma análise publicada no 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, e o consultor do órgão, Cauê Martins, relatam:
“Pesquisas apontam a maior probabilidade das vítimas de bullying desenvolverem problemas de saúde, como transtornos internalizantes (medo, retraimento, tristeza, queixas somáticas), autoagressão, avaliação negativa da própria saúde e uso de tabaco. Os perpetradores da violência, por outro lado, estão mais propensos a desenvolverem alcoolismo.”
O primeiro passo para combater o bullying é observar seus alunos e buscar identificar o problema. Só assim sua gestão pedagógica poderá agir de forma efetiva.
Mas, como já vimos, identificar o bullying na escola não é fácil. Ele é um problema silencioso, que muitas vezes ocorre longe dos olhos de professores, e cujas vítimas raramente denunciam as agressões.
Ainda assim, há detalhes que professores, pedagogos e gestores podem observar no dia a dia para identificar casos de bullying escolar.
Em alguns casos, os atos de agressão são menos sutis e podem ser vistos no ambiente escolar — às vezes na forma de uma brincadeira inadequada, ou até de xingamentos comuns. É importante investigar situações como essas e diferenciar o que é natural do desenvolvimento das crianças e o que pode estar gerando problemas sérios.
Em casos em que as agressões não são visíveis, é preciso observar seus estudantes e buscar sinais como:
Esses elementos podem indicar que o aluno está sofrendo bullying e mostrar para a escola quando é importante agir de maneira mais incisiva.
🔎 Leia mais: Saúde mental na escola: como identificar problemas e cuidar de seus alunos.
Ao ver algum dos sinais que mencionamos anteriormente, a escola deve agir imediatamente para verificar se realmente é um caso de bullying, impedir as agressões e acolher as vítimas.
No entanto, se você quer saber como evitar o bullying na escola de forma mais efetiva e combater de verdade esse problema, é necessário atuar desde já.
Para ajudar com isso, organizamos algumas dicas importantes para combater o bullying escolar:
O primeiro passo é estabelecer políticas com ações específicas de prevenção ao bullying escolar, como campanhas de conscientização, comunicação com os pais, formação de professores e estímulo ao diálogo entre alunos e pedagogos.
No mesmo cenário, é importante construir um planejamento com ações a serem tomadas em casos de violência que já estejam em curso. Isso envolve definir quem são os responsáveis por falar com vítimas e agressores, como deve ser a comunicação com os pais e qual encaminhamento deve ser feito em cada caso.
Nossas próximas dicas vão detalhar como você pode fazer esse planejamento, mas o importante aqui é deixar claro que a implementação de políticas é fundamental para que sua escola esteja preparada para combater o bullying, com diretrizes para prevenção, intervenção e consequências.
A participação da família é fundamental para lidar com situações de bullying — tanto no caso da vítima quanto no do agressor. Além disso, pais, mães e outros responsáveis têm um papel importantíssimo na prevenção e na identificação dos problemas.
Por isso, busque aproximar família e escola com uma comunicação eficaz na gestão escolar, e deixe claro o quão importante eles são nessa tarefa.
Como educador, você deve saber que a melhor arma é o conhecimento. Isso vale também para enfrentar o bullying na escola.
Ao conscientizar alunos, pais, responsáveis, professores, pedagogos e funcionários, você cria uma rede muito poderosa para identificar, evitar e combater esse problema.
🔎 Leia mais: Como abordar sobre a saúde mental nas escolas?
Defina um protocolo específico, com passos que sua gestão deve tomar para lidar com casos de bullying. Estabeleça relatórios a serem feitos, investigações para apurar a realidade de denúncias e até ações disciplinares.
Um dos grandes problemas do bullying é que a vítima se sente isolada, sem saber onde buscar ajuda.
Por isso, busque melhorar a comunicação entre escola e alunos, mostrando que eles não estão sozinhos e que sua equipe está ali para apoiá-los.
Como vimos, o bullying escolar pode causar um impacto muito sério na vida de uma criança ou adolescente. Por isso, a escola deve contar com programas de acolhimento, com suporte emocional, psicológico e também prático para estudantes que forem vítimas desse tipo de violência.
O acolhimento não deve ser apenas para a vítima. Na grande maioria dos casos, alunos que cometem bullying também têm problemas, e seu comportamento pode ser transformado por meio de programas de reabilitação e apoio psicológico.
Neste texto, vimos que muitas vezes, alunos são alvo de bullying pela aparência do corpo, aparência do rosto ou mesmo pela sua etnia. Mas, essencialmente, o “motivo” desse tipo de violência costuma ser muito parecido: a vítima é “diferente”.
Esse “diferente” pode dizer respeito a comportamento, aparência, formação cultural, deficiências, classe social e muito mais.
Por isso, uma das maiores armas contra o bullying escolar é a valorização da diversidade. Quando sua escola trabalha os temas de inclusão e acolhimento de quem é diferente, a motivação para a violência se esvazia.
Então, nossa última dica é apostar na diversidade e criar um ambiente escolar mais acolhedor para todos.