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O que é bullying na escola e como combater essa prática? | Sponte

Escrito por Carla Helena Lange | Apr 4, 2024 3:00:00 AM

Lidar com o bullying na escola é um dos principais desafios que uma gestão escolar precisa enfrentar. Isso porque a violência e a humilhação presentes nesse tipo de abuso podem ser muito prejudiciais tanto para a aprendizagem e o desenvolvimento de seus alunos quanto para a própria escola.

Afinal, sabemos que quando o estudante sente-se seguro e acolhido no ambiente educacional, ele aprende melhor, seu desenvolvimento humano é mais completo e as chances de evasão escolar são muito menores.

O bullying escolar coloca tudo isso em risco, prejudica a experiência educacional e social de uma criança ou adolescente, além de ser um perigo para sua saúde mental.

Por isso, preparamos orientações práticas para gestores lidarem de forma eficaz com o problema. Continue sua leitura e entenda o que é, quais são os verdadeiros riscos e como evitar o bullying nas escolas.

O que é bullying na escola e quais são seus diferentes tipos?

Gestores escolares experientes sabem que crianças e adolescentes em idade escolar muitas vezes têm comportamentos agressivos e até ofensivos. 

Discussões e brigas fazem parte do desenvolvimento humano e da realidade educacional, e podem ser trabalhadas com tranquilidade para que seu ambiente escolar permaneça positivo. 

No entanto, a situação muda quando as agressões se tornam recorrentes, constantes, intimidadoras e constrangedoras, tendo um aluno específico — ou alguns alunos — como alvo. Ou seja: quando você começa a lidar com práticas de bullying na escola.

Bullying é um termo em inglês, que pode ser traduzido como intimidação violenta ou assédio moral. 

Ele se diferencia das brigas normais pela sua consistência e intencionalidade. Em vez de uma agressão isolada, o bullying na escola envolve um abuso sistemático e contínuo contra pessoas específicas. 

Esses alvos acabam sentindo-se excluídos da vida social escolar e inseguros com as características que os fizeram alvos dos agressores — que podem ser de aparência, comportamento, classe social, etnia, etc.

O conceito é sério e está presente na legislação brasileira por meio da Lei nº 13.185, de 6 de novembro de 2015, que instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying)  no país.

De acordo com a Lei, o bullying se caracteriza “quando há violência física ou psicológica em atos de intimidação, humilhação ou discriminação”. 

A legislação menciona ainda que essa forma de intimidação sistemática pode envolver:

  • Ataques físicos
  • Insultos pessoais
  • Comentários sistemáticos e apelidos pejorativos
  • Ameaças por quaisquer meios
  • Grafites depreciativos
  • Expressões preconceituosas
  • Isolamento social consciente e premeditado
  • Pilhérias

Além disso, a lei reconhece também a existência de cyberbullying, como uma “intimidação sistemática na rede mundial de computadores”.

Nesse sentido, a legislação identifica diferentes tipos de bullying. Essa divisão é importante para ajudar sua escola a entender o que está enfrentando e saber como lidar melhor com cada caso.

Mas lembre-se de que, na maior parte das vezes, diferentes tipos de bullying escolar acontecem ao mesmo tempo — ou podem evoluir de violências verbais para físicas, por exemplo. Então, busque identificar essas práticas em sua escola.

Verbal

Segundo a legislação, o bullying verbal envolve insultos, xingamentos e apelidos pejorativos. 

Essa forma de violência é uma das mais comuns nas escolas e quando enquadra-se nas características de bullying — sendo constante, sistemática, humilhante, etc —, pode levar a sérios problemas de saúde mental.

Moral 

O bullying moral, por sua vez, diz respeito às ações de difamar, caluniar e disseminar rumores sobre a vítima. 

Esse abuso é imensamente prejudicial, aprofunda a exclusão social da vítima e impacta suas relações interpessoais, sua autoestima e muito mais.

Sexual

Neste ponto, a lei trata das práticas de assédio, indução e/ou abuso sexual. Esse é um risco sério no ambiente escolar e precisa receber a atenção devida de sua gestão pedagógica.

Social

Outra característica muito comum no bullying na escola é a rejeição social da vítima. Os agressores ignoram, isolam e excluem seus alvos das relações sociais escolares — e incentivam outros estudantes a fazerem o mesmo.

Isso cria uma barreira que separa a vítima das outras pessoas e ajuda a criar uma sensação de que o bullying é inescapável.

Psicológico

Todas as outras ações impõem uma grande carga psicológica às vítimas, mas a legislação identifica ainda ações que são diretamente vistas como violência psicológica.

São elas: perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, manipular, chantagear e infernizar. Tudo isso está presente em práticas de bullying na escola.

Físico

A violência física muitas vezes é a mais evidente, e envolve ações como socar, chutar e bater na vítima.

Mas vale lembrar que, em casos de bullying escolar,  o agressor tende a realizar violências físicas apenas quando não há professores, pedagogos ou outros adultos por perto. 

Ao mesmo tempo, ele pode usar de outras formas de violência para oprimir a vítima e levá-la a não denunciar os atos — e até a esconder as marcas que a agressão pode deixar.

Material

O bullying material envolve furtar, roubar ou destruir pertences da vítima. No ambiente educacional, isso pode envolver o material escolar, as roupas ou outros itens pessoais.

Virtual (Cyberbullying)

Este é o último tipo de bullying mencionado na legislação. Segundo a Lei, ele envolve: “depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade, enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e social”.

Na prática, é um abuso sistemático por meio da internet e das redes sociais — ambientes cada vez mais usados e integrados à sociabilidade de crianças e adolescentes. 

Por isso, o cyberbullying merece uma atenção especial, principalmente por ter uma característica de “inescapável”. 

Enquanto o aluno pode “desligar-se” da agressão do bullying tradicional ao sair da escola, a violência digital o persegue onde quer que esteja por meio das redes sociais.

🔎 Leia mais: Como a gestão escolar deve lidar com o cyberbullying.

Qual é a gravidade do problema do bullying na escola e sua influência negativa no bem-estar dos alunos?

Quase 38% das escolas brasileiras admitem enfrentar problemas de bullying. É o que aponta o 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e divulgado em 2023.

Já a  Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2019, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que 23% dos estudantes dizem ter sido vítimas de algum tipo de bullying nos 30 dias anteriores ao questionamento. 

A PeNSE aponta também os principais motivos para a agressão: a aparência do corpo  aparece em 16,5%, a aparência do rosto em 11,6% e a cor ou raça em 4,6%.

A pesquisa ainda levanta o impacto desse tipo de violência sistemática. 21,4% dos alunos ouvidos afirmaram que a vida não valia a pena ser vivida. Já 50,6% disseram que sentem-se preocupados com coisas comuns do dia a dia.

Segundo a PeNSE, há ainda impacto na satisfação dos estudantes com seus próprios corpos. 49,8% — menos da metade dos entrevistados — disseram que acham seu corpo normal. 28,9% se acham magros ou muito magros, enquanto 20,6% disseram se considerar gordos ou muito gordos.

Os efeitos negativos do bullying escolar não são surpreendentes. Afinal, como sabemos, a escola costuma ser o primeiro e principal espaço de socialização para a maioria das crianças e adolescentes.

A transformação desse ambiente em um espaço de sofrimento é um golpe muito sério para o desenvolvimento de um jovem — um golpe que pode parecer inescapável.

Um aluno que sofre bullying por muito tempo vê a si mesmo como inadequado para o convívio social. Ele passa a acreditar nos abusos que ouve dos colegas e reforçar o próprio isolamento, fechando-se para amigos, professores e familiares.

E, para piorar, o bullying na escola é um problema silencioso. Seja por causa de ameaças dos agressores, seja devido aos problemas psicológicos advindos da agressão, a vítima raramente denuncia as violências sofridas.

Nesse cenário, os resultados podem variar, mas entre os problemas mais comuns estão:

  • Queda nas notas e na produtividade escolar
  • Problemas de desenvolvimento acadêmico e pessoal
  • Dificuldade de socialização/isolamento social
  • Resistência de ir à escola
  • Mudança de comportamento
  • Evasão escolar
  • Depressão, ansiedade e outros problemas de saúde mental

Na prática, o bullying pode roubar a alegria de uma criança, impactar seriamente o futuro de um adolescente e, em casos extremos, é capaz de levar até ao suicídio.

E o impacto negativo não é apenas para as vítimas. Em uma análise publicada no 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, e o consultor do órgão, Cauê Martins, relatam:

“Pesquisas apontam a maior probabilidade das vítimas de bullying desenvolverem problemas de saúde, como transtornos internalizantes (medo, retraimento, tristeza, queixas somáticas), autoagressão, avaliação negativa da própria saúde e uso de tabaco. Os perpetradores da violência, por outro lado, estão mais propensos a desenvolverem alcoolismo.”

Como reconhecer e identificar os sinais desse problema?

O primeiro passo para combater o bullying é observar seus alunos e buscar identificar o problema. Só assim sua gestão pedagógica poderá agir de forma efetiva.

Mas, como já vimos, identificar o bullying na escola não é fácil. Ele é um problema silencioso, que muitas vezes ocorre longe dos olhos de professores, e cujas vítimas raramente denunciam as agressões.

Ainda assim, há detalhes que professores, pedagogos e gestores podem observar no dia a dia para identificar casos de bullying escolar.

Em alguns casos, os atos de agressão são menos sutis e podem ser vistos no ambiente escolar — às vezes na forma de uma brincadeira inadequada, ou até de xingamentos comuns. É importante investigar situações como essas e diferenciar o que é natural do desenvolvimento das crianças e o que pode estar gerando problemas sérios.

Em casos em que as agressões não são visíveis, é preciso observar seus estudantes e buscar sinais como:

  • Falta de autoestima
  • Mudança repentina de comportamento
  • Queda no desempenho escolar
  • Sonolência em sala de aula
  • Isolamento dos colegas
  • Ansiedade durante aulas e avaliações

Esses elementos podem indicar que o aluno está sofrendo bullying e mostrar para a escola quando é importante agir de maneira mais incisiva.

🔎 Leia mais: Saúde mental na escola: como identificar problemas e cuidar de seus alunos.

Como combater o bullying na escola?

Ao ver algum dos sinais que mencionamos anteriormente, a escola deve agir imediatamente para verificar se realmente é um caso de bullying, impedir as agressões e acolher as vítimas.

No entanto, se você quer saber como evitar o bullying na escola de forma mais efetiva e combater de verdade esse problema, é necessário atuar desde já.

Para ajudar com isso, organizamos algumas dicas importantes para combater o bullying escolar:

Implementação de políticas claras e abrangentes sobre o tema

O primeiro passo é estabelecer políticas com ações específicas de prevenção ao bullying escolar, como campanhas de conscientização, comunicação com os pais, formação de professores e estímulo ao diálogo entre alunos e pedagogos.

No mesmo cenário, é importante construir um planejamento com ações a serem tomadas em casos de violência que já estejam em curso. Isso envolve definir quem são os responsáveis por falar com vítimas e agressores, como deve ser a comunicação com os pais e qual encaminhamento deve ser feito em cada caso.

Nossas próximas dicas vão detalhar como você pode fazer esse planejamento, mas o importante aqui é deixar claro que a implementação de políticas é fundamental para que sua escola esteja preparada para combater o bullying, com diretrizes para prevenção, intervenção e consequências.

Estímulo ao engajamento das famílias na realidade escolar

A participação da família é fundamental para lidar com situações de bullying — tanto  no caso da vítima quanto no do agressor. Além disso, pais, mães e outros responsáveis têm um papel importantíssimo na prevenção e na identificação dos problemas. 

Por isso, busque aproximar família e escola com uma comunicação eficaz na gestão escolar, e deixe claro o quão importante eles são nessa tarefa.

Desenvolvimento de programas educacionais e campanhas de conscientização 

Como educador, você deve saber que a melhor arma é o conhecimento. Isso vale também para enfrentar o bullying na escola.

Ao conscientizar alunos, pais, responsáveis, professores, pedagogos e funcionários, você cria uma rede muito poderosa para identificar, evitar e combater esse problema.

🔎 Leia mais: Como abordar sobre a saúde mental nas escolas?

Estabelecimento de protocolos claros de intervenção para lidar com casos de bullying na escola

Defina um protocolo específico, com passos que sua gestão deve tomar para lidar com casos de bullying. Estabeleça relatórios a serem feitos, investigações para apurar a realidade de denúncias e até ações disciplinares.

Melhoria na comunicação entre escola e alunos

Um dos grandes problemas do bullying é que a vítima se sente isolada, sem saber onde buscar ajuda.

Por isso, busque melhorar a comunicação entre escola e alunos, mostrando que eles não estão sozinhos e que sua equipe está ali para apoiá-los. 

Implementação de programas de apoio às vítimas de bullying

Como vimos, o bullying escolar pode causar um impacto muito sério na vida de uma criança ou adolescente. Por isso, a escola deve contar com programas de acolhimento, com suporte emocional, psicológico e também prático para estudantes que forem vítimas desse tipo de violência.

Criação de programas de reabilitação para os agressores

O acolhimento não deve ser apenas para a vítima. Na grande maioria dos casos, alunos que cometem bullying também têm problemas, e seu comportamento pode ser transformado por meio de programas de reabilitação e apoio psicológico.

Como uma escola inclusiva ajuda a reduzir a ocorrência do bullying escolar?

Neste texto, vimos que muitas vezes, alunos são alvo de bullying pela aparência do corpo, aparência do rosto ou mesmo pela sua etnia. Mas, essencialmente, o “motivo” desse tipo de violência costuma ser muito parecido: a vítima é “diferente”.

Esse “diferente” pode dizer respeito a comportamento, aparência, formação cultural, deficiências, classe social e muito mais. 

Por isso, uma das maiores armas contra o bullying escolar é a valorização da diversidade. Quando sua escola trabalha os temas de inclusão e acolhimento de quem é diferente, a motivação para a violência se esvazia.

Então, nossa última dica é apostar na diversidade e criar um ambiente escolar mais acolhedor para todos.