Se você quer ter um ambiente educacional construtivo, agradável e inclusivo, a saúde mental dos estudantes precisa ser um dos principais pontos de atenção para toda a equipe pedagógica de sua escola.
Isso porque, além da importante função no ensino formal das crianças e adolescentes, a escola de Educação Básica também costuma ser um dos primeiros espaços de socialização e de desenvolvimento comunitário para seus alunos.
Por isso mesmo, geralmente é no ambiente escolar que eles costumam dar os principais sinais de problemas de saúde mental. Gestores, pedagogos e professores experientes certamente já tiveram contato com situações como essas.
Esses problemas podem ter diferentes origens. A própria pressão escolar, combinada com situações da vida pessoal, social e/ou familiar pode levar ao desenvolvimento de alunos deprimidos e ansiosos.
Mas, seja qual for a situação, a equipe pedagógica precisa estar preparada para perceber os sinais que a criança ou o adolescente apresenta, e também para orientá-lo para lidar com isso.
Você provavelmente já tem preparo para isso. Mas, para te ajudar nesse sentido, a Sponte preparou algumas dicas sobre como identificar problemas de saúde mental e como cuidar do bem-estar de seus alunos. Confira e aprenda mais com a gente.
A crise da saúde mental é um problema global, que atinge todas as idades e tem marcado uma presença preocupante entre as crianças e adolescentes em idade escolar.
Segundo informações do último relatório mundial da saúde mental da Organização Mundial da Saúde (OMS) quase um bilhão de pessoas viviam com algum transtorno mental em 2019.
Considerando as idades escolares, 7,6% das crianças entre 5 e 9 anos tinham problemas nesse sentido. Entre 10 e 13 anos, eram 13,5%. Já com os adolescentes entre 15 e 19 anos, 14,7% enfrentavam algum transtorno de saúde mental — um número maior do que a média mundial acima dos 20 anos, que é 14,5%.
E isso tudo é de antes da pandemia. O impacto do isolamento e do temor causados pelo coronavírus tendem a aumentar ainda mais essas taxas preocupantes. O mesmo estudo da OMS chegou a mencionar a estimativa de um “crescimento substancial em transtornos de depressão e ansiedade como resultados da pandemia de covid-19”.
Esse é um problema sério, que, em casos extremos, aumenta taxas de suicídio. Em casos menos sérios, prejudica o convívio social dos alunos, seu desenvolvimento como cidadãos e até sua saúde e expectativa de vida.
Segundo a OMS, “pessoas com problemas de saúde mental severos morrem entre 10 a 20 anos mais cedo do que a população em geral”.
Isso já é motivo suficiente para uma escola — que deve ser um ambiente acolhedor, de formação e preparação do cidadão — ter o dever de ajudar a família e a sociedade a cuidar do bem-estar das crianças e dos adolescentes.
Mas, além disso, problemas de saúde mental também prejudicam o andamento escolar e até a rotina da escola. Veja mais:
A saúde mental dos estudantes é uma questão central também para garantir o bom andamento do ensino na educação básica.
Isso porque problemas nesse contexto prejudicam a disposição, a atenção e até o comportamento do estudante. Com essa questão, seus resultados caem, sua relação com os colegas piora e fica muito mais difícil para ele absorver os conhecimentos e as lições.
E o impacto não é apenas individual. Se a criança ou adolescente não receber o cuidado e o acolhimento necessários, os problemas de saúde mental podem prejudicar também o convívio e a aprendizagem dos colegas, assim como o trabalho dos professores, ao criar um ambiente educacional menos positivo para todos.
É importante lembrar, no entanto, que isso não é culpa da criança ou adolescente que sofre com o problema de saúde mental e é função da escola fazê-la sentir-se acolhida e ajudá-la — junto com seus pais e responsáveis — a lidar com a situação.
É na escola que a maioria das crianças e dos adolescentes tem boa parte de suas relações sociais e, por isso, esse é um dos melhores lugares para perceber quando há algo de errado com eles.
Então, para te ajudar com isso, apresentamos na sequência os principais sinais que podem mostrar que o aluno está enfrentando algum tipo de crise de saúde mental. Confira:
Esse é um problema que pode ter diversas raízes. Mas, quando o assunto é escola, muitas vezes ele está ligado ao processo de aprendizagem. Um aluno com dificuldade em acompanhar o ritmo da turma pode sentir-se diferente dos demais, menos capaz e, consequentemente, excluído.
A queda na autoestima também pode ser causada por bullying, falta de respeito pela diversidade e dificuldades na relação com os colegas.
Mas seja qual for a origem do problema, o resultado pode ser catastrófico, levando à evasão de alunos na educação básica e até a problemas mais sérios de saúde mental.
Assim, a gestão educacional precisa orientar os professores e a gestão pedagógica a darem uma atenção especial a esses casos, buscando ter conversas frequentes com seu corpo estudantil para identificar e lidar com a questão.
O excesso de sono e a apatia durante o período de permanência na escola podem demonstrar que o aluno está com dificuldades para dormir à noite, que ele não dorme o suficiente ou que está com algum outro desequilíbrio psicológico ou físico.
Em matéria da BBC, evidências científicas mostram que distúrbios no sono são sintomas muito característicos de problemas de saúde mental. Tanto que 92% das pessoas com depressão são afetadas por dificuldades na hora de dormir.
Distúrbios de sono também podem ter origem em outros problemas emocionais, que causam insônia ou um sono entrecortado e agitado.
Dessa forma, é papel da escola conversar com a família para identificar o real problema do aluno: será que a falta de sono é fruto de uma rotina mal ajustada? Ou será que ele enfrenta crises de ansiedade à noite?
Se a chave da questão for mesmo um problema de saúde mental, como transtorno de ansiedade, é preciso procurar um profissional de psicologia ou até mesmo de psiquiatria.
Falta de sono também pode levar a problemas de saúde mental
A sonolência em sala de aula nem sempre é sinal de problemas de saúde, porque é comum que adolescentes durmam menos do que as oito horas recomendadas.
No entanto, isso também é um sinal de alerta para sua escola! Isso porque quem tem dificuldade de dormir está mais propenso a desenvolver depressão, ansiedade e outros transtornos de saúde mental mais tarde.
Por isso, se seu aluno estiver dormindo em sala de aula com muita frequência, busque falar com os pais ou responsáveis e orientá-los a buscar ajuda profissional.
A escola pode ser um ambiente intimidador para crianças e adolescentes, principalmente quando há mudança para uma nova instituição. Nesses casos, é comum que a timidez fale mais alto e o aluno comece mais retraído, mas vá se soltando ao longo do tempo, entrosando com a turma e fazendo novos amigos.
Contudo, infelizmente, para alguns estudantes, essa não é apenas uma fase, mas sim um comportamento que se estende. Quando um aluno passa a se isolar e evitar contato com os colegas e até com o professor, está na hora de se preocupar e notificar a família.
Afinal, o excesso de timidez e introspecção não só afeta o desenvolvimento social dos alunos, como também pode ser um sinal — ou um desencadeador — de problemas como falta de autoconfiança, ansiedade, insegurança e até depressão.
Isso é ainda mais evidente se o aluno costumava ser entrosado com a turma, mas começou, repentinamente, a demonstrar uma vontade frequente de se isolar de todos.
A gestão educacional deve, então, trabalhar junto aos pais e responsáveis para identificar o motivo desse comportamento.
Ele pode ser reflexo de algo que esteja acontecendo na casa ou mesmo de problemas na própria escola. Não é incomum que alunos vítimas de bullying, por exemplo, se isolem dessa forma.
A ansiedade em momentos de grandes desafios, como provas e atividades em grupo, é comum. Ela é um mecanismo do cérebro que nos deixa em alerta para uma ocasião que consideramos importante ou ameaçadora.
No entanto, há níveis em que essa ansiedade passa a prejudicar a rotina e, em casos extremos, até incapacitar os seus estudantes. Quando isso acontece, é sinal de que ela está começando a tomar uma forma patológica.
A ansiedade pode ser identificada pela análise do comportamento. Por exemplo, quando um aluno fica sabendo de uma prova, atividade diferente ou passeio que ocorrerá no futuro; isso atrapalha sua concentração nas atividades? Atrapalha seu sono? É motivo de preocupação ou nervosismo?
Quando o caso ocorre vez ou outra, e de forma branda, existem diversas técnicas que ajudam a superá-lo, como respirar profundamente, interromper a atividade, desviar o foco, etc.
No entanto, se o aluno de fato entra em crise, é hora de dar uma atenção especial e falar com a família ou com os responsáveis.
Para identificar o problema, fique de olho em sintomas como dificuldade de respirar, sensação de falta de ar, crises de choro, tremores, taquicardia, suor excessivo, náuseas e boca seca.
Há algumas atitudes que uma instituição de ensino pode tomar para proporcionar maior bem-estar, autoestima e saúde para seus alunos. Confira as principais:
Um dos maiores desafios ao lidar com a saúde mental é que ela ainda é considerada um tabu por uma parte grande da sociedade. Essa mentalidade está equivocada e, felizmente, já vem sendo superada, com o assunto tornando-se cada vez mais discutido na sociedade.
A escola também pode fazer sua parte, tratando dele em sala de aula e em atividades especiais.
Temos um texto que fala especificamente sobre isso, com dicas e orientações. Confira: Saúde mental dos alunos: como trabalhar esse tema nas escolas?
Ter professores e pedagogos preparados para lidar com a saúde mental dos alunos é excelente para o andamento de sua escola. Por isso, invista em capacitações, cursos e eventos que ajudem nesse sentido.
Muitas vezes, o problema de saúde mental é gerado na própria escola, por pressão nas atividades, ansiedade com provas e vestibulares, bullying, dificuldade de socialização, entre outros.
E mesmo quando o problema vem de casa, um ambiente hostil na escola pode aprofundá-lo.
Por isso, trabalhe para criar um ambiente acolhedor em sua instituição. Busque combater o bullying, promover as relações positivas, incentivar a autoestima dos alunos e estimular o respeito à diversidade.
Lembre-se de sempre ouvir o que seus alunos têm a dizer, valorize suas conquistas e trate-os de forma respeitosa.
Temos vários textos sobre o assunto para você se aprofundar. Confira:
Problemas sérios de saúde mental precisam ser trabalhados por profissionais capacitados, como psicólogos, psiquiatras e outras pessoas da área.
Por isso, sua escola deve contar com uma equipe de apoio interna ou com profissionais externos que sejam de confiança e possam ajudar quando houver essa necessidade.
A responsabilidade de cuidar dos alunos deve ser compartilhada com pais e responsáveis. São eles que podem tomar decisões e ter mais efetividade ao ajudar a criança ou adolescente.
Por isso, a escola precisa ter uma boa comunicação com eles, com abertura para conversas francas e respeitosas.
Contar com um sistema que facilite esse contato, como o Portal do Aluno do Sponte, também é uma boa pedida.
Psicólogos e psiquiatras são pessoas preparadas para lidar com a saúde mental, com capacitação, estudos e ferramentas muito mais adequados do que a escola ou mesmo os pais e responsáveis podem ter. Por isso, oriente sua comunidade escolar a buscar ajuda, sempre que necessário.
A saúde mental é essencial na formação das crianças e adolescentes para o futuro. Afinal, o mundo está mudando rapidamente e quem estiver preparado social e emocionalmente poderá lidar com essas transformações de forma mais madura e saudável.
Para ler mais sobre o assunto, confira a palestra de Henrique Tichauer no Sponte para a educação: