Educadores e estudiosos da educação já entendem que o ensino conteudista é limitado. Saber matemática, português e ciências é, obviamente, fundamental. Mas seus alunos — que serão os cidadãos do futuro — precisam de mais: precisam desenvolver seu pensamento crítico e criativo.
Isso porque é difícil prever em que tipo de futuro as crianças e adolescentes de hoje viverão quando forem adultos. Com as transformações vertiginosas da tecnologia e do convívio social, o mundo não é o mesmo de dez anos atrás e certamente não será o mesmo nos próximos dez anos.
O futuro é instável e incerto, e é dever da escola, junto com pais e responsáveis, equipar seus estudantes com o discernimento e a criatividade para que possam enfrentar seus desafios e aproveitar as oportunidades que devem surgir nos próximos anos.
Neste artigo, você saberá mais sobre a importância de desenvolver o pensamento crítico e criativo e entenderá o que a escola pode fazer para ter um ambiente em que essas habilidades floresçam e prosperem.
O conceito de desenvolver o pensamento crítico na escola envolve dar ao aluno a capacidade de analisar questões, racionalizar e tomar decisões com independência, racionalidade e clareza.
Ou seja: um estudante com o pensamento crítico mais desenvolvido tem muito mais autonomia no próprio aprendizado. Ele não dispensa a necessidade do professor, mas a complementa, aprendendo de forma mais abrangente, analisando as situações de forma racional e tendo o educador como um guia, ou um orientador, nesse processo.
Esse protagonismo na aprendizagem permite que ele se torne um adulto autossuficiente, o que é essencial para o seu sucesso e para o desenvolvimento da sociedade em seu entorno.
Leia mais: 4 passos para tornar seu aluno o protagonista do próprio aprendizado
Esse aluno também está mais preparado para resolver problemas sem depender apenas de fórmulas memorizadas. O pensamento crítico permite que ele verifique o que está errado e construa uma racionalização que o leve à solução sistematicamente.
Tudo isso sempre foi importante, mas vem se tornando ainda maior. Como já mencionamos, o futuro é instável e imprevisível. Confira o que Henrique Tichauer, sócio e fundador da EXP – Inteligência Educacional, falou sobre isso em sua palestra na primeira edição do Sponte para a educação. Clique aqui e assista.
O pensamento crítico ajuda a entender conexões lógicas entre ideias, construir e avaliar argumentos e até identificar inconsistências no raciocínio — tanto no alheio quanto no próprio.
Esse “poder” mostra-se inestimável hoje, pois, com o crescimento das redes sociais e a avalanche de informações a que crianças, crianças, adolescentes e adultos são diariamente expostos a isso.
É um mundo repleto de notícias falsas, falácias argumentativas, afirmações incorretas e informações inúteis. É preciso ter pensamento crítico para navegar nesse oceano com autonomia, sem ser manipulado e com o poder de questionar, também, seus próprios preconceitos e limitações.
Em resumo, desenvolver pensamento crítico na educação ajuda o indivíduo a crescer mais independente e se desenvolver de forma mais plena e feliz; e também é importante para a comunidade e para a democracia, que se fortalecem pela autonomia.
O pensamento crítico é uma das 10 competências estabelecidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Por isso, deve ser um objetivo na criação do projeto político pedagógico da escola.
Leia mais: Entenda a BNCC – Base Nacional Comum Curricular.
Você certamente já ouviu falar do conceito STEM, a sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Essa ideia existe desde meados de século passado como uma metodologia para formar alunos preparados para as “profissões do futuro”, em um mercado de trabalho cada vez mais tecnológico.
Mas o conceito evoluiu. Nas últimas décadas, ele ganhou um “A”, de Artes, para abranger também o ensino de linguagens, design, arquitetura, música e outras áreas que permitem explorar a sensibilidade e o pensamento criativo. Tornou-se: STEAM.
Saiba mais: Entenda o que é STEAM e como aplicar essa metodologia em sua escola.
Isso deixa claro o quanto a criatividade é central. A arte, por si só, é fundamental para o desenvolvimento humano. Arte é vida, em suas mais distintas formas. Está em todas as sociedades desde a Idade da Pedra e é indissociável da própria expressão da humanidade.
A criatividade é central para interpretar o mundo que nos cerca e para compartilhar essa interpretação, seja em uma pintura, em um livro, em uma escultura ou na contação de histórias. Ajuda, assim, a pessoa a organizar suas emoções e seus pensamentos.
E mais: ela está intrinsecamente conectada ao pensamento crítico, porque a análise racional depende de uma observação imaginativa que permita ver “além” do que os olhos apresentam.
O pensamento crítico se enriquece por meio da imaginação de cenários, possibilidades e até intenções.
Sem falar que a criatividade é apaixonante. Você certamente já viu alunos obcecados por desenhar, criar histórias ou representar papéis.
Incentivar a criatividade de forma educacional é excelente para manter seus alunos engajados e ter um ensino mais agradável.
Para completar, a criatividade e a imaginação também são fundamentais para a criação de um mundo mais acolhedor, diverso e igualitário. Educar alunos com pensamento crítico e criatividade é o caminho para uma formação plena e para uma sociedade mais saudável e feliz.
Qualquer professor, pedagogo ou gestor escolar sabe que a maioria das crianças possui uma curiosidade natural, combinada a uma imaginação extremamente fértil e uma inclinação a questionar tudo.
Esses três elementos são os pontos centrais tanto do pensamento crítico quanto da criatividade. No entanto, muitas vezes, eles se perdem nos limites da disciplina, no marasmo do conteudismo e na padronização de alunos para o mercado de trabalho que marcou a educação nos últimos séculos.
O papel da escola, então, é recuperá-los, incentivá-los e ajudá-los a explorar o mundo por essa ótica crítica, imaginativa e repleta de potencial.
Afinal, uma instituição de ensino pode ser vista como o ambiente ideal para desenvolver pensamento crítico e criatividade.
Para muitas crianças, ela é o primeiro e maior ponto de sociabilidade e de contato com pessoas que têm origens e visões de mundo distintas, o que oferece o primeiro passo para o pensamento crítico: o questionamento de suas próprias certezas.
Também é a escola que abre as portas de um mundo de conhecimento aos estudantes. Lá dentro, eles aprendem muito sobre o mundo, sobre as outras pessoas e sobre si mesmos.
Sem falar que a escola também tem o maior potencial para desenvolver essas habilidades, pois tem materiais e profissionais preparados justamente para isso.
Para ir ainda mais longe, a gestão pedagógica também pode assumir o papel de convocar pais e responsáveis para essa missão. Por meio dessa integração entre a escola e a família, o estudante pode se desenvolver ainda mais.
Saiba como fortalecer esse contato com os responsáveis: A comunicação entre pais e escola: o que a tecnologia tem a nos ensinar?
Contar com a criatividade e o pensamento crítico no projeto pedagógico de sua escola é importante para realmente explorar essas possibilidades junto de seus alunos. Mas, para te ajudar a colocá-las em funcionamento, preparamos uma lista de boas práticas:
Como comentamos, as crianças já chegam à escola com um potencial enorme tanto de pensamento crítico quanto de criatividade. Mas, para favorecer esse desenvolvimento, é preciso ter um ambiente que acolha a diversidade, estimule a inclusão e trabalhe a formação socioemocional dos estudantes.
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Os professores vivem em contato direto com os alunos. Portanto, eles têm o maior potencial para realmente incentivar o pensamento crítico e a criatividade.
Então invista em formação continuada para seus docentes. Assim eles terão o conhecimento e as ferramentas necessárias para explorar ao máximo essas possibilidades.
Metodologias que colocam o aluno no centro da própria aprendizagem são excelentes para fazê-los exercitarem a autonomia e o pensamento crítico. Em vez de ouvirem o professor passivamente, eles podem explorar outras possibilidades e compartilhar seu conhecimento com a turma.
Aprenda mais:
Já sabemos que a leitura é uma excelente forma de ter contato com outras realidades e possibilidades — isso é indispensável para os objetivos propostos neste artigo.
Mas, para ir ainda mais longe, inclua no planejamento pedagógico e oriente seus professores a pedirem atividades de interpretação de texto, resumos e resenhas. Isso fará com que o aluno preste mais atenção no que está lendo e tenha a oportunidade de tecer suas próprias conclusões sobre o assunto.
Há diversas atividades que podem fazer seu aluno refletir e exercitar o pensamento crítico. Alguns exemplos são os debates, as mesas-redondas, as resenhas, as pesquisas guiadas etc.
Além disso, é ótimo dar a eles tempo para pensarem a respeito das conclusões e respostas obtidas nessas atividades e, ainda, em outros momentos das aulas, como ao fim de uma explicação expositiva ou mesmo na entrega de uma avaliação.
Atividades que estimulem a criatividade também são boas pedidas. O educador pode pedir que os alunos representem o aprendizado de alguma forma artística, como desenho livre, poesia ou interpretação teatral.
Leia mais: Como trabalhar a criatividade em diferentes idades escolares.
Motive seus professores a buscarem abordagens que transcendam as disciplinas. É válido até combinar atividades que conectem diversos educadores de áreas diferentes.
O projeto pedagógico de uma escola é o principal guia para suas estratégias de ensino/aprendizagem. Por isso, busca incorporar todas as recomendações que trouxemos neste artigo para potencializar ainda mais o desenvolvimento de seus alunos de forma plena e saudável, com criatividade e pensamento crítico.