Uma parte muito importante da missão da escola é ensinar para seus alunos a prática da cidadania. Ou seja, mostrar a eles como podem lidar com problemas sociais e participar ativamente da realidade que os cerca.
A premissa é trabalhar a ideia de que, independente da idade, cada indivíduo pode exercitar hábitos que causam um impacto positivo na sociedade, com valores como solidariedade, compaixão, empatia, cooperação e respeito.
Por meio da aprendizagem da cidadania durante os anos da educação básica, os estudantes podem se enxergar como parte da sociedade. Assim, passam a ter mais estrutura para se desenvolverem como adultos conscientes, com plena capacidade de conviver e atuar socialmente de modo sustentável.
Por isso, ensinar a cidadania é um dever das instituições de ensino para que cumpram plenamente o seu papel na sociedade.
Porém, você já sabe como levar esses conceitos para sua escola? E, principalmente, como aplicá-los na prática com os alunos?
Entenda neste artigo como a equipe escolar e o gestor podem abordar a cidadania em sua gestão pedagógica, contribuindo para uma formação mais completa dos estudantes.
- Qual é a importância de trabalhar a prática da cidadania na escola?
- Como ensinar cidadania na educação básica?
- Propor rodas de debate sobre cidadania e problemas sociais
- Inserir a prática da cidadania nas disciplinas tradicionais
- Integrar o aluno na criação de normas e regras para a sala de aula
- Dar responsabilidades aos alunos na manutenção do bem-estar escolar
- Ensinar os alunos a reconhecerem e aprenderem com os próprios erros
- Apresentar exemplos da comunidade e de problemas sociais atuais
- Contar com palestras e discussões sobre figuras públicas que têm impacto na sociedade
- Incentivar projetos comunitários e socioambientais
- Integrar as famílias no ensino da cidadania para seus alunos
- Trabalhar a cidadania digital
Qual é a importância de trabalhar a prática da cidadania na escola?
Na introdução deste texto, já vimos, brevemente, que o ensino da cidadania na educação básica permite a formação de adultos conscientes e ativos em suas comunidades. Mas você sabe o que exatamente isso significa? Como essa prática pode realmente ajudar?
Em primeiro lugar, a prática da cidadania na escola, por meio de atividades que envolvem a comunidade, como o empreendedorismo social, desenvolvem nas crianças e adolescentes a capacidade de participar ativamente no mundo que os cerca.
Sem falar que essas atividades mostram a importância de eles agirem dessa forma e o impacto positivo que suas ações podem causar.
A prática da cidadania na escola também ajuda a desenvolver nos estudantes o pensamento crítico e criativo, além de sua capacidade de resolução de problemas
Ela ainda ajuda as crianças e adolescentes a compreenderem o mundo e fazerem boas escolhas, que não sejam prejudiciais para si ou para os demais.
Com tudo isso, eles entendem seus direitos e deveres e podem participar ativamente na criação de uma sociedade mais justa e igualitária.
Cidadania na BNCC
Com tantas vantagens, a prática da cidadania na escola também está prevista na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em um lugar de destaque entre as competências gerais da educação básica.
Confira a 6º competência que, segundo a BNCC, deve ser desenvolvida nos estudantes.
Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
O termo cidadania ainda aparece muitas outras vezes, como um objetivo essencial para o desenvolvimento de seus alunos.
Leia também: Como fazer um plano de aula de acordo com a BNCC?
Como ensinar cidadania na educação básica?
Para colocar em prática a cidadania em sua escola, sua equipe pedagógica pode seguir estas 10 orientações fundamentais:
1. Propor rodas de debate sobre cidadania e problemas sociais
A escola reúne várias crianças, de diferentes origens e visões de mundo, acompanhadas por professores, pedagogos e outros profissionais com suas próprias perspectivas.
Por isso, ela é um lugar incrível para promover a diversidade, discutindo inclusão, cultura, ética e vida em comunidade.
Esse tipo de discussão inclusiva e diversa deve estar presente nas salas de aula, nas apresentações, nas falas dos gestores e até na recepção e na comunicação com os alunos.
Além disso, é possível potencializar isso ainda mais, dando voz aos alunos por meio da formação de coletivos que discutam a representatividade na escola.
Leia mais: Como sua escola pode ser mais diversa e inclusiva?
Preparamos 25 ideias que podem ajudar sua equipe pedagógica a desenvolver uma escola ainda mais inclusiva e cidadã. Confira:
2. Inserir a prática da cidadania nas disciplinas tradicionais
A educação cidadã precisa ser integrada às disciplinas tradicionais, com destaque para as aulas que falam especificamente sobre a sociedade, como é o caso de História, Geografia, Arte, Linguagens e Ciências Sociais.
Em História, por exemplo, é necessário discutir momentos em que os direitos humanos foram violados e também como a sociedade formou a consciência atual de cidadania e seu dever de agir em comunidade.
Já em Geografia, sua escola pode explorar diferentes organizações sociais, mostrando a ação cidadã em cada uma delas.
Em Arte e Linguagens, é possível apresentar diferentes formas de comunicação e expressão artística de maneira diversa e respeitosa.
Nas disciplinas que envolvem Ciências Sociais, vale a pena destacar os direitos e deveres de cada cidadão dentro da sociedade, mostrando aos alunos o que é cidadania e como eles podem fazer parte de sua comunidade.
É claro que esses são apenas exemplos simples e resumidos, e que a cidadania deve ser discutida também nas outras disciplinas. A vivência social faz parte das Ciências da Natureza, da Educação Física e até da metodologia STEAM, que é mais focada em Ciências Exatas.
Mas lembre-se: para a prática da cidadania na escola funcionar, esses conceitos devem estar inseridos no seu planejamento pedagógico.
3. Integrar o aluno na criação de normas e regras para a sala de aula
O conceito de cidadania envolve, claramente, a participação do indivíduo na sociedade. E isso deve ocorrer não de forma passiva, e sim ativa, em que a pessoa pode colaborar com suas opiniões e apresentar suas próprias demandas na construção social.
Esse exercício deve começar na educação básica. Chame seus alunos para discutir a formulação das normas e regras para a escola, ouvindo o que eles têm para acrescentar e criando um ambiente acolhedor, justo e igualitário para todos.
Afinal, esse é o tipo de sociedade que queremos ter, não é?
Além disso, essa prática ainda ajuda os alunos a entenderem seus próprios direitos e deveres e compreenderem a importância das leis e do respeito no convívio social.
4. Dar responsabilidades aos alunos na manutenção do bem-estar escolar
Para que os estudantes entendam ainda melhor seus próprios direitos e deveres, busque integrá-los na organização da escola. É possível ter monitores, alunos que ajudem a supervisionar a hora do recreio e — principalmente — representantes estudantis em cada turma.
Essas responsabilidades ainda ajudam a prepará-los para a realidade da vida adulta e estimulam seu senso de comunidade e o trabalho conjunto pelo bem comum.
5. Ensinar os alunos a reconhecerem e aprenderem com os próprios erros
Cidadania também é entender que cada ato tem consequências e que elas atingem a sociedade como um todo.
Por isso, trabalhe com os alunos a importância de reconhecerem seus erros e o impacto que eles têm na escola e na vida do próprio estudante.
Mas os erros não podem ser apresentados como uma falha terrível, que vai deixar seus alunos marcados para sempre, e que eles devem se arrepender, ser castigados e fazer penitência.
Esse tipo de abordagem só leva a mais sofrimento, insegurança e problemas de saúde mental.
Por isso, os erros devem ser abordados como oportunidades de aprendizado, que vão ajudar o aluno a evoluir junto com a turma e com a comunidade escolar como um todo.
6. Apresentar exemplos da comunidade e de problemas sociais atuais
Aprender cidadania na teoria e discutir problemas sociais apenas no mundo das ideias não é o suficiente para engajar seus alunos.
Para aprenderem de forma efetiva, eles precisam de casos palpáveis, conectados com suas próprias realidades.
Por isso, busque trabalhar com exemplos reais e recentes de problemas sociais que impactam a realidade do aluno, ou que estejam impactando outras pessoas de verdade.
7. Contar com palestras e discussões sobre figuras públicas que têm impacto na sociedade
Uma percepção comum para muita gente — crianças e adultos — é que somos “pequenos demais” para fazer qualquer diferença na sociedade. É uma impressão de que nossos atos são inconsequentes e que é impossível termos participação ativa na comunidade.
Essa percepção é um engano e há muitas pessoas que comprovam isso, atuando em seu dia a dia para ajudar a criar uma sociedade mais igualitária para todos.
Então, para ajudar seus alunos a entenderem seu próprio poder transformador dentro da comunidade, busque convidar essas pessoas para palestras, debates e discussões na escola.
Procure, também, preconizar a diversidade. Conte com pessoas diferentes e diversas, discutindo suas ações a favor da comunidade.
Novamente, lembre-se de que isso precisa estar previsto no calendário e integrado ao planejamento pedagógico. Contar com um sistema de gestão escolar pode facilitar esse trabalho e dar mais flexibilidade para sua equipe.
8. Incentivar projetos comunitários e socioambientais
É importante ir além dos muros da escola, levando a cidadania para a comunidade como um todo! Para isso, promova projetos e atividades de seus alunos de forma integrada com a sociedade.
Pode ser um jantar para levantar verba para uma entidade do bairro, um mutirão para recolher lixo (com cuidado para garantir a segurança dos alunos), uma ação comunitária para poupar água e estimular a sustentabilidade ou qualquer outro projeto nesse sentido.
Ideias de empreendedorismo social também são excelentes, estimulando não apenas a integração social, mas também o desenvolvimento empreendedor de seus estudantes.
Assim, os alunos entenderão que a comunidade vai além do grupo que ele conhece na escola. Ela ultrapassa barreiras e, por isso, a cidadania não deve ter fronteiras.
Abordamos o empreendedorismo social também neste eBook, que explora possibilidades que vão ajudar a ensinar cidadania para seus alunos de forma prática, com resultados sociais.
9. Integrar as famílias no ensino da cidadania para seus alunos
O ensino da cidadania não pode ser um dever exclusivo da escola. Para ter mais eficiência, busque integrar pais e responsáveis por meio de atividades conjuntas, reuniões frequentes e tarefas que os alunos levarão para casa.
Assim, a aprendizagem é mais eficiente, diversa e democrática.
10. Trabalhar a cidadania digital
Com a evolução da tecnologia e a transformação do mundo digital, a prática da cidadania não pode mais ficar limitada ao “offline”. Hoje é preciso também pensar na sociedade conectada.
Por isso, instrua seus alunos a agirem de forma responsável nas redes sociais, oriente-os nas pesquisas e mostre como é possível construir um ambiente mais igualitário e acolhedor também no ambiente digital.
Nesse mesmo sentido, trabalhe para combater o cyberbullying, que já está presente na maioria das escolas e é um sério problema para a saúde mental dos estudantes.
Como formar cidadãos preparados para os problemas sociais do futuro?
Os princípios estruturais da cidadania — como a participação ativa na comunidade, com empatia, respeito e diversidade — são os mesmos em qualquer época. No entanto, a forma como isso se desenvolve pode variar muito em diferentes momentos.
O mundo digital, por exemplo, transformou profundamente essa atuação. Hoje, agir de forma cidadã também pode significar manifestar-se nas redes, reunir grupos de reivindicações online e até respeitar o outro em uma discussão virtual.
E é difícil saber como isso ainda vai mudar nos próximos anos. A tecnologia evolui com uma velocidade sem precedentes, as formas de relacionamento social se transformam a olhos vistos e o futuro da sociedade é incerto.
No entanto, com pessoas formadas em uma pedagogia cidadã, libertadora, diversa e inclusiva, esse futuro tem tudo para ser muito promissor.
Então, ajude seus alunos a não apenas se prepararem, mas também a participarem dessas mudanças.
Carla Helena Lange
Líder de Marketing