O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma questão séria, que atinge milhares de pessoas no mundo todo, com predominância na infância e na adolescência — justamente nos anos da Educação Básica, uma fase fundamental na formação pessoal e educacional do indivíduo.
No Brasil, 7,6% de crianças e adolescentes com idade entre 6 e 17 anos apresentam esse transtorno (segundo a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS). Ainda assim, não se discute o suficiente sobre a realidade do déficit de atenção nas escolas.
Nesse cenário, há milhares de estudantes com TDAH pelo país que não têm o acompanhamento adequado e, por isso, acabam com dificuldades para desenvolver o próprio conhecimento e aproveitar todo o potencial da infância durante sua formação.
Então, é uma função não apenas do professor, mas de toda a gestão pedagógica de sua escola, tentar identificar esses estudantes, orientar os pais e criar um ambiente agradável de ensino e aprendizagem para seus alunos com déficit de atenção.
Continue a leitura e veja como sua gestão escolar pode trabalhar para ajudar crianças e adolescentes com TDAH a explorarem suas próprias capacidades e se desenvolverem com pleno potencial.
A primeira coisa que todo gestor escolar ou professor deve ter em mente é que um aluno com déficit de atenção não é limitado em seus conhecimentos ou em seu potencial de aprender, se desenvolver e crescer como as outras crianças.
O TDAH não é uma condição que causa problemas cognitivos, e sim um transtorno que gera uma dificuldade para manter a atenção e o foco em uma atividade por um período de tempo.
Estudantes com esse transtorno se distraem com mais facilidade, podem ficar desatentos durante a aula e nem sempre acompanharão a explicação do professor. Além disso, tendem a ser mais hiperativos e, por vezes, até impulsivos, reagindo a situações negativas de maneira intensa.
A partir desses conhecimentos, uma escola pode adequar seus processos — tanto em sala de aula quanto fora dela — para oferecer uma educação adequada também para esses estudantes.
Nossas dicas daqui para frente servem para professores e gestores escolares. Compartilhe-as com sua equipe conforme a necessidade da instituição.
Para ajudar um aluno com déficit de atenção, é preciso entender como a situação interfere na vida dele e de que forma ela se manifesta. Por isso, o primeiro passo é compreender os três diferentes tipos TDAH, de acordo com a predominância de sintomas: hiperativo, desatento e combinado.
Neste quadro, o estudante apresenta muitos sinais de hiperatividade: não consegue ficar parado por muito tempo, tende a mexer pés e mãos enquanto está sentado, fala muito, interrompe os demais — tanto colegas quanto professores — e tem dificuldade para esperar sua vez ou comunicar-se com calma.
Além disso, ele tem uma tendência mais explosiva ao lidar com problemas ou situações desconfortáveis.
Quando esta é a predominância, a criança ou adolescente costuma ter muita dificuldade para manter a concentração em suas tarefas e tende a não gostar de atividades que exigem foco e esforço mental, ou que levam tempo para serem concluídas.
Esses estudantes ainda tendem a cometer erros por desatenção, não dão atenção a detalhes, podem ser desorganizados e esquecem com facilidade de prazos ou compromissos.
Neste caso, o transtorno reúne características das duas tendências anteriores — a criança ou adolescente tem dificuldade de focar nas atividades e, ao mesmo tempo, tem muita energia e impulsividade.
Níveis de TDAH e medicação
Também é fundamental levar em conta que o déficit de atenção tem graus diferentes, podendo ser leve, moderado ou grave. O tratamento envolve acompanhamento psicoterapêutico e, em algumas situações, medicação — inclusive com antidepressivos, se for necessário.
Professores e gestores precisam estar atentos a isso, pois medicamentos pesados podem gerar efeitos colaterais no estudante. Busque sempre conversar com os pais para saber como o aluno está lidando com a medicação e como a escola pode apoiá-lo.
Um aluno com TDAH tende a se distrair facilmente com qualquer coisa, seja a janela, a porta ou até mesmo cartazes no mural da sala de aula. Por isso, é interessante colocá-lo para se sentar perto da mesa do professor, na primeira fileira.
Assim, o aluno consegue se envolver mais com a aula e o docente pode acompanhá-lo de perto para saber se está prestando a devida atenção na lição.
Alunos com déficit de atenção costumam focar mais facilmente em atividades estimulantes, que exijam trabalho manual e/ou criatividade, e não apenas esforço mental. Por isso, sempre que possível, busque trabalhos e tarefas que explorem essas diferentes possibilidades.
Essa variação nas atividades tende a ser uma vantagem inclusive para os outros estudantes, que vão gostar do estímulo.
Oferecer diferentes recursos para ensinar também é uma ótima ideia. Alguns exemplos são apresentações multimídia, gráficos, tabelas e trabalhos em grupo.
Alunos hiperativos adoram se movimentar e possuem muita energia. Por isso, é interessante oferecer atividades que ofereçam isso, como jogos, gincanas e outras tarefas mais ativas.
Além disso, em aulas tradicionais, o professor pode permitir que o aluno ande pela sala, apague a lousa ou recolha as atividades dos outros colegas.
Atribuições como essas fazem com que a criança permaneça ativa e, ao mesmo tempo, sinta-se útil e estimulada durante a aula. Porém, é importante que as tarefas não atrapalhem as outras crianças da turma.
Alunos com TDAH têm maior dificuldade para concentrarem-se em mais de uma coisa por vez. Por isso, quando for aplicar atividades ou explicar matérias, passe um conteúdo por vez e o acompanhe de perto para ver se ele está absorvendo.
Essa é uma maneira de ajudar e motivar o aluno para que ele consiga manter o ritmo da aula e assimilar melhor o que está sendo ensinado pelo professor.
O professor deve aproveitar que o aluno está perto para conferir suas anotações sempre que possível. Avalie se ele está registrando tudo, inclusive as tarefas para fazer em casa.
Alunos com déficit de atenção têm tanto potencial quanto os outros estudantes, mas eles mesmo podem começar a duvidar disso — principalmente quando começam a perceber que não acompanham as aulas da mesma maneira que os demais.
Portanto, valorizar seus resultados é fundamental. Parabenize boas notas e reconheça cada conquista, mesmo que ela seja pequena.
Quando os resultados são reconhecidos, os alunos tendem a sentir muito mais motivação.
Aliás, isso vale para todos os estudantes: sempre valorize os resultados e o progresso apresentado. O reforço positivo vai revolucionar a maneira como as crianças e adolescentes abordam o próprio aprendizado.
Enquanto o reforço positivo leva a uma boa relação do aluno com a aprendizagem, o reforço negativo pode prejudicar todo esse processo — principalmente com alunos que têm TDAH e tendem a não reagir bem em situações adversas.
Por isso, busque sempre ser gentil nas críticas e apresentá-las como oportunidades de o aluno crescer, reconhecendo o progresso que ele teve para chegar até ali.
Além disso, dê preferência por criticar esse estudante individualmente, sem deixá-lo em destaque frente aos colegas.
Já dissemos que os alunos com déficit de atenção têm o mesmo potencial que os outros estudantes. Mas é essencial que a escola demonstre isso para ele, dando-lhe autonomia e ajudando-o a se tornar protagonista do próprio aprendizado.
As competências socioemocionais são fundamentais para uma escola que quer educar seus alunos de forma humana e preparada para os desafios da nova geração.
Além disso, elas têm um grande potencial para melhorar a relação entre alunos com déficit de atenção e a escola, criando um vínculo emocional de respeito mútuo que leva a excelentes resultados.
Leia mais: Quais são as competências socioemocionais importantes para desenvolver na escola.
Trabalhar apenas com os alunos com TDAH não é o suficiente para oferecer para eles um ensino de qualidade. Também é essencial criar um ambiente acolhedor, no qual eles se sintam parte da turma e confortáveis para se expressarem, questionarem e se desenvolverem. Isso envolve diretamente a forma como o restante dos estudantes lidam com ele.
Por isso, o primeiro passo é trabalhar as habilidades socioemocionais da turma toda. Assim, a gestão escolar fortalece a empatia, o cuidado, o relacionamento interpessoal e outras características importantes para esse relacionamento com um colega que é um pouco diferente.
Da mesma forma, é importante reunir a turma toda e estabelecer — em conjunto e respeitando a opinião de todos — normas e limites pessoais que permitam uma relação mais agradável.
Trabalhar o tema da saúde mental na escola é outra importante ação, que vai ajudar cada estudante a se sentir mais à vontade, não apenas com o aluno com TDAH, mas também consigo mesmo e com os demais colegas.
Além disso, aborde os temas da representatividade, da diversidade e da educação inclusiva, que ajudam a construir um ambiente mais acolhedor para toda a comunidade escolar.
Leia mais:
Aulas expositivas tradicionais tendem a ser terríveis para alunos com TDAH. Eles rapidamente perdem o foco na explicação, acabam entediados e podem até criar problemas na classe, porque têm muita energia que acaba sobrecarregada depois de muito tempo sentados.
Por isso, adaptar o currículo pedagógico pensando em atividades e metodologias ativas pode ser uma excelente forma de engajar esses estudantes e ajudar em seu aprendizado.
A escola pode explorar atividades mais prazerosas e de curta duração, com estímulos manuais, esportivos e artísticos, por exemplo. Tudo isso junto com outras metodologias, como a sala de aula invertida, que estimula a autonomia dos alunos e sua participação ativa nas aulas.
Metodologias ativas para toda a turma
Atividades diferentes, que saem do padrão tradicional e expositivo, ajudam toda a turma, não apenas os alunos com déficit de atenção. Afinal, estamos em uma época de muita informação e de revolução digital. É mais um motivo para buscar incorporar as metodologias ativas em seu ensino.
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade tem um diagnóstico difícil e ainda enfrenta bastante preconceito e desconhecimento na sociedade. Muita gente não conhece o TDAH, enquanto outras chegam a duvidar de sua existência ou relevância.
Por isso, é muito fácil que alunos com déficit de atenção cheguem à escola sem saber dessa condição.
Nesse cenário, torna-se função da escola ajudar a reconhecer os sintomas e auxiliar na busca por um diagnóstico. Para isso, fique atento quando o estudante:
Mas lembre-se de que essa lista serve apenas para ter a primeira suspeita do transtorno. A avaliação correta do TDAH só pode ser feita por um profissional.
Ao identificar sintomas de TDAH em um estudante, a escola deve ajudar a garantir o tratamento adequado para essa criança ou adolescente. Isso envolve, é claro, buscar os pais e/ou responsáveis para apresentar a situação e orientar na busca por apoio profissional.
O assunto pode ser delicado, por isso, é importante mencionar que o transtorno não precisa ser um problema. Com o tratamento correto, boas orientações profissionais e uma escola que se preocupa com o estudante, ele tem todo o potencial para crescer tanto quanto os outros alunos — ou mais!
Uma boa comunicação escolar com pais e responsáveis é fundamental para isso. Eles devem ver sua instituição como uma aliada nesse momento e trabalhar em conjunto para ajudar no desenvolvimento do estudante.
Trabalhar com alunos que têm déficit de atenção pode ser desafiador para a comunidade escolar — principalmente para o professor, que atua diretamente e diariamente com o estudante.
Esse é mais um motivo pelo qual a formação continuada se faz essencial para o corpo docente. Busque estimular em seus professores essa vontade de se atualizar e foque em apresentar formas de tornar sua escola mais inclusiva, não apenas para alunos com déficit de atenção, mas para toda a rica diversidade que compõe nossa sociedade.