Hoje vivemos um momento de mudança de paradigmas na Educação. Afinal, as transformações sociais e tecnológicas do século XXI precisam ser levadas em conta para o desenvolvimento dos alunos. Por isso, além dos conhecimentos tradicionais trabalhados em uma escola, é muito importante explorar também as competências socioemocionais de seus estudantes.
Essas habilidades envolvem o autoconhecimento, o pensamento crítico, a responsabilidade social, a aptidão para solucionar problemas, a capacidade de lidar com as próprias emoções, entre outras importantes competências fundamentais na formação de verdadeiros cidadãos.
Portanto, a gestão pedagógica de sua escola precisa estar preparada para entregar esse aprendizado integral e ajudar seus alunos a obterem sucesso pessoal e profissional no futuro.
Leia mais para entender quais são essas habilidades e como trabalhar as competências socioemocionais na escola.
- Aprendizagem socioemocional para uma educação mais humana
- Considerações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o desenvolvimento social e emocional dos estudantes
- Big Five: as competências socioemocionais a partir das cinco dimensões da personalidade humana
- Desafios para ensinar as competências socioemocionais em escolas
- A importância de integrar as habilidades socioemocionais e a tecnologia na educação do futuro
Aprendizagem socioemocional para uma educação mais humana
Muitas escolas consideram as competências socioemocionais como responsabilidades dos pais e da sociedade, avaliando que a função da instituição se resume aos conhecimentos técnicos das disciplinas. Assim, elas continuam presas em um modelo de educação que — na opinião de muitos especialistas do ensino — não tem mais espaço no mundo em que vivemos hoje.
Uma dessas especialistas é a professora Anita Abed, consultora da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e autora de estudo-base sobre competência socioemocionais para o Conselho Nacional de Educação. Em sua palestra para a série de diálogos O futuro se aprende, da plataforma Porvir Educação, ela disse que a escola precisa se adaptar à nova realidade.
“A educação que existia não cabe em um mundo assim tão veloz, de mudanças a cada dia, de tecnologias novas a cada instante. A gente precisa preparar o aluno para esse futuro — que a gente não sabe qual é —, para lidar com mudanças e para trabalhar em equipe”.
[hubspot portal="20499330" id="69fc16b1-8334-4229-af0d-37c1718e9a47" type="form"]Essa é a missão da gestão escolar em escolas do futuro: ir além dos conhecimentos tradicionais e ajudar seus alunos a terem sucesso profissional e pessoal, com um ensino muito mais humano e completo.
Dessa forma, a professora Abed considera que precisamos viver uma mudança de cultura. Ela diz que a sociedade e a escola tradicionalmente costumam separar os períodos de diversão dos momentos de trabalho e estudo, criando uma cisão que prejudica o desenvolvimento das pessoas. Afinal, nas palavras dela: “o prazer em aprender é algo inerente ao ser humano. Deveria ser considerado como tal”.
O objetivo é que os estudantes passem a estudar com mais motivação, realmente entendendo o sentido do próprio aprendizado, em vez de simplesmente decorar e passar de ano.
“As competências socioemocionais entram nesse contexto de recuperar o humano dentro do ser humano”, afirma a educadora.
- Já nos aprofundamos mais no assunto, falando sobre como o aprendizado socioemocional é fundamental na formação de cidadãos completos. Se quiser entender, confira: A importância de desenvolver as habilidades socioemocionais dos alunos.
Metodologias ativas na educação do futuro
Além das competências socioemocionais, outra estratégia importante para as escolas é a implantação de metodologias ativas no ensino. Elas dão mais autonomia aos alunos, melhoram o aprendizado, aumentam o engajamento e ajudam na construção de cidadãos com pensamento crítico e responsabilidade social.
Esse aprendizado socioemocional, combinado aos conhecimentos tradicionais, também está previsto na Base Nacional Comum Currícular (BNCC). Ao definir suas próprias competências, o documento destaca:
“No novo cenário mundial, reconhecer-se em seu contexto histórico e cultural, comunicar-se, ser criativo, analítico-crítico, participativo, aberto ao novo, colaborativo, resiliente, produtivo e responsável requer muito mais do que o acúmulo de informações. Requer o desenvolvimento de competências para aprender a aprender, saber lidar com a informação cada vez mais disponível, atuar com discernimento e responsabilidade nos contextos das culturas digitais, aplicar conhecimentos para resolver problemas, ter autonomia para tomar decisões, ser proativo para identificar os dados de uma situação e buscar soluções, conviver e aprender com as diferenças e as diversidades”.
Assim, fica claro o quanto as competências socioemocionais são fundamentais na hora de compor um plano de aula de acordo com a BNCC, focado em formar cidadãos capazes, críticos, responsáveis e bem-sucedidos.
Big Five: as competências socioemocionais a partir de cinco dimensões da personalidade humana
Definir com exatidão quais são as competências socioemocionais que um aluno precisa desenvolver é uma missão impossível. Afinal, a existência humana é um oceano repleto de sensações, experiências e vivências profundamente distintas.
Contudo, precisamos ter algum tipo de modelo para podermos incorporar as habilidades socioemocionais no aprendizado. Para isso, voltaremos à palestra da professora Anita Abed.
Em sua apresentação, a educadora trouxe à tona uma teoria da psicologia, que considera que é possível analisar a personalidade humana a partir de cinco dimensões, denominadas Big Five. Essa pode ser uma explicação reducionista para abranger toda a extensão da experiência humana, mas é um bom ponto de partida para trabalhar a aprendizagem socioemocional em sua escola.
Por isso, trouxemos aqui um pouco sobre cada uma dessas dimensões, quais competências se conectam a elas e como a escola pode incentivar seu desenvolvimento. Algumas das dicas servem para a gestão escolar e outras para os professores. Portanto, é importante que o gestor compartilhe esse conhecimento.
- Openness (abertura a experiências)
Esta é a disposição para experimentar novos aprendizados, a vontade de buscar o conhecimento e a abertura para questionar preconceitos e desenvolver a mentalidade. Ela envolve as seguintes competências:
- curiosidade
- prazer por aprender
- criatividade
- imaginação
Para incentivar essas competências, as aulas podem contar com estratégias como metodologias ativas, gamificação e a utilização da literatura no desenvolvimento dos alunos.
- Conscientiousness (conscienciosidade)
Tem a ver com ser autoconsciente, entender seus potenciais, ter organização e ser responsável por buscar o conhecimento. Envolve as competências de:
- Perseverança
- Autonomia
- Controle da impulsividade
- Foco no aprendizado
Metodologias que coloquem o aluno como protagonista do próprio aprendizado, como a sala de aula invertida, são uma ótima escolha para potencializar essas competências.
- Extraversion (extroversão)
Envolve o direcionamento da energia para o “mundo exterior”, considerando o relacionamento com outras pessoas, animais e coisas. As competências são:
- Sociabilidade
- Autoconfiança
- Entusiasmo
Uma maneira positiva de potencializar essa competência é por meio de atividades em grupo — e não apenas atividades avaliativas, mas também brincadeiras, jogos e outras opções. Também é legal incentivar a expressividade dos alunos com apresentações de trabalhos e experiências artísticas.
- Agreeableness (amabilidade - cooperatividade)
É a capacidade de trabalhar com outras pessoas de forma realmente colaborativa, ocupando seu próprio lugar, mas também respeitando o espaço e o protagonismo do outro. Entre as principais competências, temos:
- Generosidade
- Tolerância
- Simpatia
- Empatia
Aqui os trabalhos em grupo também são fundamentais. Além disso, podemos incentivar o trabalho da representatividade por meio de coletivos, que permitem aos alunos apresentarem sua diversidade em grupo, de forma ativa, além de aprenderem mais sobre o universo da vivência dos outros.
Outra boa opção é o empreendedorismo social dentro das escolas, que leva os alunos a ajudarem a sociedade, entendendo suas necessidades e exercitando a empatia.
- Neuroticism (estabilidade emocional)
É o controle das próprias emoções, para ter reações mais sensíveis, humanas e respeitosas, além de manter a calma em situações adversas.
- Autocontrole
- Serenidade
Sendo assim, o caminho para fortalecer essas competências passa por trabalhar a saúde mental dentro da escola. É válido discutir o assunto em grupo e também individualmente, ter grupos de apoio e acolhimento, contar com ajuda de profissionais da área e promover atividades que tratem do assunto.
O equilíbrio emocional ainda é um grande tabu na sociedade — apesar de já termos uma grande evolução nesse quesito. Então, falar sobre o assunto com frequência é uma ótima maneira de quebrar esse ciclo e melhorar as competências socioemocionais relacionadas a ele.
- O oceano da experiência humana
Como você pôde ver, mantivemos os nomes das dimensões em inglês, mas há um motivo para isso. Quando juntamos as iniciais de cada um deles, temos a palavra oceano. É uma pequena metáfora sobre a imensidão, a profundidade e o movimento constante da experiência humana.
Ao vermos cada aluno com toda essa amplitude de experiências e vivências, podemos ter uma educação muito mais humana e efetiva.
Desafios para ensinar as competências socioemocionais em escolas
No cenário em que vivemos hoje, com uma predominância da educação tradicional em nossas escolas e também na sociedade, há dois principais problemas que se apresentam quando buscamos desenvolver as competências socioemocionais na educação: como desenvolvê-las e como avaliá-las?
Afinal, ainda temos uma mentalidade que separa a experiência educativa das atividades que nos dão prazer e satisfação. Ainda nos limitamos, muitas vezes, às disciplinas e aulas expositivas.
Portanto, nesse cenário, o primeiro passo para o desenvolvimento de uma aprendizagem socioemocional é aplicar atividades diferenciadas, explorando metodologias ativas, criação de coletivos, empreendedorismo social, entre outros. Também é fundamental que o professor se coloque como um mediador do conhecimento, em vez de um simples expositor.
Sabemos que a transformação não vai acontecer de uma hora para outra. Por isso, é fundamental que os gestores da escola entendam essa necessidade e que os professores busquem formação continuada para que a transformação realmente aconteça.
A avaliação, por sua vez, é um desafio à parte. Para lidar com ela, é importante entender muito bem as competências e escolher atividades que o aluno possa apresentar dentro dessas áreas. Podem ser jogos, dinâmicas, redações, apresentações, criação de coletivos, atuações junto à comunidade e até rodas de diálogo. Tudo isso é válido.
Para diagnosticar se o aluno realmente desenvolveu a competência, o foco é a observação. O professor deve conhecer bem o que a atividade envolve, para conferir como o aluno lidou com ela — não adequando-se a um padrão, mas criando soluções e buscando o próprio desenvolvimento.
Por isso, a formação continuada é ainda mais importante, para que o professor esteja pronto para fazer esse diagnóstico. Além disso, ter inteligência emocional também é uma necessidade para professores e gestores.
Saiba mais. Tudo sobre avaliação escolar: melhores práticas no processo avaliativo, objetivos e análise de resultados
A importância de integrar as habilidades socioemocionais e a tecnologia na educação do futuro
O desenvolvimento das competências socioemocionais é fundamental nas escolas de hoje. Afinal, o mundo se transforma muito rápido e não sabemos qual será o futuro que nossos alunos enfrentarão.
Este é o mundo da tecnologia e das transformações digitais, e para levar todas as novas metodologias e atividades para a escola, é interessante contar com as vantagens dessa nova realidade.
Ter uma sala de aula online para possibilitar o ensino híbrido ou um sistema de gestão que organize dados de engajamento dos alunos pode potencializar muito as chances de desenvolvimento de seus estudantes.
Pensando nisso, preparamos um guia para que as escolas se preparem para o futuro. Confira:
Carla Helena Lange
Líder de Marketing