Acolhimento, respeito e protagonismo do estudante são elementos que têm ganhado cada vez mais destaque na educação atual. Essa tendência é tão relevante que chegou a trazer de volta a prática da disciplina positiva na escola.
Afinal, sabemos o quanto a disciplina é importante para garantir o bom andamento das lições em sala de aula. Alunos disciplinados aprendem melhor e ajudam a criar um ambiente de aprendizagem respeitoso com o professor, os colegas e toda a gestão pedagógica da instituição.
No entanto, também já sabemos que algumas das práticas disciplinares tradicionais não oferecem os melhores resultados. O autoritarismo, as punições e até as recompensas nem sempre são capazes de propiciar o desenvolvimento de bons relacionamentos e a formação de um cidadão pleno, feliz e bem-sucedido.
Ao mesmo tempo, a permissividade absoluta é ainda mais arriscada. Sem uma dose adequada de disciplina, a escola pode virar um caos — principalmente em uma instituição de educação básica que trabalha com crianças e adolescentes.
A disciplina positiva na escola apresenta-se, então, como um meio termo possível. Ela se distancia do autoritarismo e da permissividade oferecendo uma abordagem focada em empatia, solução de problemas e respeito.
Continue sua leitura e aprenda mais:
- O que é disciplina positiva na escola?
- Quais são os 5 princípios da disciplina positiva?
- Quais são os benefícios da educação positiva na educação?
- Como aplicar a disciplina positiva em sala de aula?
O que é disciplina positiva na escola?
A disciplina positiva ganhou destaque nos últimos anos, mas não é uma novidade no mundo da educação. Ela se tornou pública por meio do livro Positive Discipline, escrito pela educadora estadunidense Jane Nelson e publicado em 1981.
O conteúdo do livro de Nelson se baseia em teorias psicológicas de autores ainda mais antigos — Alfred Adler (1870-1937) e Rudolf Dreikurs (1897-1972).
No entanto, a ideia da disciplina positiva na escola continua a ser absolutamente atual.
Ela se baseia em um preceito simples: crianças têm direito à dignidade e ao respeito. Elas não devem ser submissas ou bem treinadas, e sim ouvidas, compreendidas e respeitadas no ambiente escolar e em seu contexto social.
Leia também: Como ensinar e praticar a cidadania na escola?
Segundo texto da Associação Disciplina Positiva Brasil, a “disciplina positiva baseia-se no conceito de que disciplina pode ser ensinada com firmeza e gentileza ao mesmo tempo, sem punição, castigo ou recompensa”.
Isso afasta essa proposta das abordagens mais tradicionais da psicologia, que afirmam que o que motiva o comportamento de uma criança — ou mesmo de um adulto — são as recompensas e punições.
Ela propõe que os indivíduos desejam ser aceitos em seu ambiente e querem entender a importância e o significado de seus atos e das regras que regem o contexto em que estão inseridas. E o entendimento dessa premissa seria a chave para uma educação mais inclusiva, diversa e efetiva.
Para isso, é preciso ter empatia, compreender a perspectiva do aluno e trabalhar junto com ele na solução dos problemas — em vez de contra ele, com punições e censuras.
Quais são os 5 princípios da disciplina positiva?
A disciplina positiva na escola se baseia em cinco pilares fundamentais, que te ajudarão a entender como ela pode funcionar em sua instituição de educação básica:
1. Conexão
As pessoas são criaturas sociais. Sua felicidade, na grande maioria dos casos, depende de sentirem-se aceitas como parte de algo — uma comunidade, um grupo ou uma escola, por exemplo.
Essa conexão e esse pertencimento fazem com que as pessoas atuem pelo bem desse espaço que as acolheu. Então, ao criar uma conexão da escola com seus alunos, você os estimula a terem um bom comportamento por conta própria.
Nesse sentido, é importante ter uma boa conexão também com pais e responsáveis, para fortalecer a disciplina dos estudantes e sua formação plena.
2. Respeito mútuo
Um erro muito comum na educação de uma criança é tratá-la como se o adulto sempre soubesse o que é certo e só a criança deve obedecer e respeitar.
A disciplina positiva defende que o respeito deve ser mútuo. Assim como a criança deve respeitar professores, pais e responsáveis, estes também devem respeitá-la, sabendo ouvir suas opiniões e valorizando o que ela tem a falar.
Da mesma forma, quando a criança questionar uma regra ou proibição, não deve-se exigir obediência cega, mas sim respeitar a inteligência dela e explicar o porquê dessa situação.
A partir disso, é possível ter uma disciplina firme, mas com gentileza.
3. Eficácia em longo prazo
A disciplina positiva convida sua gestão pedagógica a uma reflexão: como o aluno vai responder a suas estratégias disciplinares quando crescer?
No longo prazo, as punições e recompensas vão ajudá-lo a ser um cidadão mais pleno e feliz? Ou apenas vão servir para fazê-lo obedecer imediatamente?
No contexto da disciplina positiva, esses são questionamentos essenciais e a educação verdadeira depende desse cuidado, considerando o que as crianças estão pensando e sentindo em cada momento.
4. Foco no desenvolvimento de habilidades de vida
A disciplina positiva compreende que o comportamento e os relacionamentos de uma criança dependem muito de sua formação.
Ou seja: se o aluno desenvolver habilidades socioemocionais, que permitam que ele expresse melhor sua subjetividade, a relação dele com os outros tem tudo para melhorar.
Isso significa incluir a educação socioemocional no contexto escolar e ensinar competências como cooperação, empatia, responsabilidade e autodisciplina.
Leia mais: Quais são as competências socioemocionais importantes para desenvolver na escola?
5. Estímulo à autonomia
O último princípio da disciplina positiva é o desenvolvimento da autonomia dos alunos. Ela propõe formar alunos protagonistas e independentes, que tenham responsabilidade pelo próprio aprendizado.
As crianças e os adolescentes devem saber identificar e valorizar suas habilidades e pontos fortes, assim como devem ter o direito de explorar seus interesses, com apoio e orientação dos educadores.
Essa autonomia faz com que eles conheçam o processo de aprendizado e tenham um comportamento adequado porque entenderão que é o melhor para eles, e não uma imposição da escola.
Leia mais: Aluno protagonista: 12 passos para desenvolver esse conceito em sua escola.
Quais são os benefícios da educação positiva na educação?
Essa abordagem humanizada à disciplina escolar tem um potencial muito grande na educação básica. Pelo que vimos até agora, já é possível identificar os principais benefícios, mas vamos reforçá-los abaixo:
- Melhor comportamento
- Autonomia e protagonismo dos estudantes
- Ensino mais efetivo
- Formação mais completa
- Inclusão e diversidade na escola
- Criação de um senso de pertencimento ao ambiente escolar
- Enriquecimento do relacionamento entre escola, pais e responsáveis
Como aplicar a disciplina positiva em sala de aula?
Adotar essa prática em sua escola não é difícil. Organizamos aqui alguns dos principais passos para isso:
- Escute seus alunos
O primeiro passo para ter uma disciplina positiva é exercitar a escuta ativa em sua escola. Capacite sua gestão pedagógica e seus professores para que saibam ouvir os estudantes de maneira aberta e respeitosa, entendendo suas demandas e sugestões.
- Desenvolva um ambiente acolhedor
O acolhimento é parte fundamental da disciplina positiva. Os alunos devem se sentir valorizados, seguros e pertencentes ao ambiente escolar.
Isso envolve desde investir em uma estrutura agradável até organizar sua equipe para tratar os estudantes de maneira acolhedora, com empatia.
- Proporcionar a educação socioemocional
Já falamos sobre a educação socioemocional mais cedo, mas vale reforçar: o desenvolvimento dessas competências é essencial para criar uma escola mais positiva.
Leia mais: Educação socioemocional: o que é e qual a sua importância para o contexto escolar?
- Praticar a resolução positiva de conflitos
Problemas escolares não podem ser resolvidos com punições ou isolamento. Pelo contrário, eles devem envolver negociação, mediação e compromissos de todos os envolvidos.
Se houver comportamentos negativos, não humilhe, culpe ou puna seus alunos. Em vez disso, busque entender a motivação para aquilo e trabalhe para criar soluções conjuntas e permanentes, no longo prazo.
- Dê autonomia ao aluno
Permita que o aluno explore seus interesses e desenvolva sua própria educação — sempre com a orientação e a mentoria do professor.
Metodologias ativas da educação são ótimas práticas para isso.
Leia mais: Metodologias ativas: quais as vantagens e como contribuem na educação?
- Estimule a parceria dos alunos com a equipe escolar
Professores, pedagogos e gestores não podem ser motivos de medo para os alunos. Os estudantes devem se sentir parte de uma comunidade acolhedora, que trabalha em conjunto para seu desenvolvimento.
Tudo isso é importantíssimo, e vale lembrar que uma boa comunicação com a comunidade escolar é fundamental não só para a disciplina positiva, mas também para todo o desenvolvimento educacional.
Por isso, invista em canais efetivos e tenha abertura para receber críticas e sugestões. Leia mais no eBook da Linx Sponte:
Carla Helena Lange
Líder de Marketing