A nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que já está em vigência, exige evoluções na gestão pedagógica, na elaboração do plano de aula e até nas áreas de conhecimento a serem abordadas em sala de aula.
As mudanças trazidas por esse documento tão importante buscam democratizar o ensino e melhorar a aprendizagem na educação básica do país inteiro. Por isso, é essencial entender o que ele propõe e caminhar junto em prol desses objetivos.
Nesse sentido, a adaptação à BNCC na educação básica deve ser algo constante, que se atualize anualmente e evolua, seguindo as tendências da sociedade e o desenvolvimento de novas tecnologias educacionais.
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Continue sua leitura e saiba tudo o que sua escola precisa para seguir as diretrizes e as tendências da BNCC, de forma atualizada, para ter os melhores resultados na relação ensino-aprendizagem.
- O que é a BNCC?
- Como surgiu a nova Base Nacional Comum Curricular?
- Quais são os objetivos da BNCC?
- Quais são as 10 competências gerais da BNCC
- Quais são os fundamentos pedagógicos da BNCC?
- BNCC atualizada: como sua escola pode lidar com esse documento em 2023?
- Como a BNCC vai mudar o processo de alfabetização?
- Como adaptar a nova Base Nacional Comum Curricular às aulas online e ao ensino híbrido?
O que é a BNCC?
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento elaborado pelo Ministério da Educação, a partir de estudos, ciclos de debates, seminários e até consultas públicas. Tudo isso para chegar a uma proposta educacional realmente sintonizada com as necessidades educacionais do país.
Esse documento apresenta diretrizes para orientar as etapas da educação básica nas escolas particulares e públicas do Brasil, servindo como uma referência obrigatória para a elaboração dos currículos escolares.
Para tanto, a BNCC sugere mudanças e propostas para todos os níveis da educação básica, concedendo, é claro, flexibilidade às instituições de ensino para que tenham um planejamento pedagógico coerente com suas realidades regionais.
Ela determina, também, as competências (sejam elas gerais ou específicas), as habilidades e as aprendizagens com as quais todos os alunos, de qualquer lugar do país, devem ter contato durante sua passagem pela escola.
Nesse sentido, é importante considerar que ela não se apresenta como um currículo escolar estabelecido, e sim como um conjunto de orientações dividido para cada etapa do desenvolvimento escolar, envolvendo Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.
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A partir das orientações da BNCC, sua instituição de ensino tem liberdade para construir o próprio currículo, levando em conta suas particularidades regionais, suas preferências em metodologias educacionais e avaliativas ou quaisquer outros aspectos importantes para garantir um ensino adequado e humanizado para seus alunos.
A Base Nacional Comum Curricular envolve:
- Textos introdutórios (geral, por etapa e por área).
- Competências gerais que os alunos devem desenvolver ao longo de todas as etapas da educação básica.
- Competências específicas de cada área do conhecimento e dos componentes curriculares.
- Direitos de aprendizagem ou habilidades relativas a diversos objetos de conhecimento (conteúdos, conceitos e processos) que os alunos devem desenvolver em cada etapa da educação básica — da Educação Infantil ao Ensino Médio.
Como surgiu a nova Base Nacional Comum Curricular?
A existência de uma base comum curricular a ser usada em todas as escolas do país faz parte do Plano Nacional da Educação, previsto desde a promulgação da Constituição Federal de 1988.
Nesse momento de redemocratização nacional, via-se a importância de democratizar também o acesso ao ensino de qualidade e entendia-se o desenvolvimento pleno, crítico e criativo do aluno como um dos pilares da construção do futuro do Brasil.
No mesmo contexto, o texto da Constituição antecipava a elaboração de um guia com conteúdos obrigatórios e fixos que deveriam ser trabalhados no Ensino Fundamental.
Contudo, somente em 1996 foi criada a Lei de Diretrizes e Bases, com a elaboração de parâmetros curriculares nacionais válidos para todos os estados brasileiros.
Para expandir essa proposta, em 2014 foi estabelecido o Plano Nacional de Educação, com o objetivo de implantar as diretrizes para toda a educação básica.
Essa definição levou ao surgimento da primeira versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em 2015. Ela nasceu a partir de análises de especialistas e de consultas públicas.
No ano seguinte, ocorreu o fim da consulta pública. A partir dos resultados coletados no país inteiro, apresentou-se a segunda versão do documento.
Na sequência, em 2017, o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), com apoio do Ministério da Educação, realizou um evento conhecido como “Dia D – Discussões das escolas do BNCC – Ensino Fundamental e Infantil”.
Essa reunião, junto a outros debates, levou ao desenvolvimento de mais uma versão da BNCC. Assim, a Base Nacional Comum Curricular foi homologada pelo MEC em dezembro de 2017, fruto de extensivos debates sociais e educacionais que envolveram o país inteiro.
Com isso, as escolas começaram a revisar seus Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) a partir das diretrizes da nova base curricular.
Quais são os objetivos da BNCC?
De modo geral, as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular buscam desenvolver uma forma de ensino considerada mais justa e completa, contemplando as competências básicas do currículo escolar, bem como habilidades cognitivas e socioemocionais, prezando pelo desenvolvimento físico, social e cultural dos alunos.
Ela tem, como objetivo, levar esse ensino de forma igualitária ao Brasil inteiro, em escolas públicas e privadas de qualquer região, reduzindo desigualdades educacionais e melhorando a qualidade do ensino como um todo.
Além disso, a BNCC busca propor competências e metodologias adequadas para formar alunos prontos para os desafios de um futuro muito mais digital e interconectado.
Quais são as 10 competências gerais da BNCC
Com essa meta de oferecer uma formação humana integral às crianças e jovens, a BNCC trabalha com o conceito de competências, que já tem marcado a discussão pedagógica e social das últimas décadas, tanto no Brasil quanto no cenário internacional.
Assim, as 10 competências gerais da educação básica propostas pela BNCC e que devem marcar presença no currículo escolar de sua instituição são:
- Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
- Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.
- Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
- Utilizar diferentes linguagens — verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital —, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
- Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
- Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
- Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
- Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
- Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
- Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
Além das competências gerais, existem também competências específicas, que são responsáveis por conectar as áreas do conhecimento de forma interdisciplinar e ligar todos os conteúdos de forma vertical, configurando a progressão entre as etapas de Ensino Infantil, seguido pelo Fundamental e terminando no Ensino Médio.
Quais são os fundamentos pedagógicos da BNCC?
Ao propor sua transformação na educação brasileira, a BNCC baseia-se em dois grandes fundamentos pedagógicos: o foco no desenvolvimento de competências, que acabamos de mencionar, e o compromisso com a educação integral. Vamos entendê-los melhor:
Foco no desenvolvimento de competências
Segundo o documento da BNCC, o conceito de competências está presente nos currículos educacionais desde as décadas finais do século XX, sendo adotado até nas avaliações internacionais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A ideia basilar para esse enfoque é indicar que as decisões pedagógicas — desde o desenvolvimento do PPP e do currículo escolar até o trabalho dentro da sala de aula — devem estar orientadas para o desenvolvimento das competências dos estudantes.
Isso envolve a indicação do que os alunos devem saber e o que eles devem saber fazer. Conforme citado no próprio texto da BNCC:
- Saber: constituição de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores.
- Saber fazer: mobilização desses conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho.
O compromisso com a educação integral
A BNCC busca seguir a transformação social, indicando que é necessário ter “um olhar inovador e inclusivo a questões centrais do processo educativo”. Essas questões são:
A resposta para essas perguntas envolve desenvolver nos alunos competências que o ajudem a “aprender a aprender”, lidando com a avalanche de informações disponíveis com discernimento e responsabilidade.
Envolve também ajudar o aluno a ir além do acúmulo de informações, com um ensino que leve-o a “reconhecer-se em seu contexto histórico e cultural, comunicar-se, ser criativo, analítico-crítico, participativo, aberto ao novo, colaborativo, resiliente, produtivo e responsável”.
É aí que entra o compromisso da BNCC com a educação integral, que rompe com “visões reducionistas” da educação e compreende a complexidade do desenvolvimento humano.
Ela entende que o aluno é um “sujeito de aprendizagem” e que a educação deve ser voltada ao acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno, levando em conta sempre as singularidades e diversidades, sem espaço para o preconceito e a discriminação.
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Nas próprias palavras do documento:
Assim, a BNCC propõe a superação da fragmentação radicalmente disciplinar do conhecimento, o estímulo à sua aplicação na vida real, a importância do contexto para dar sentido ao que se aprende e o protagonismo do estudante em sua aprendizagem e na construção de seu projeto de vida.
A partir desses dois fundamentos pedagógicos centrais, a BNCC se debruça sobre cada etapa da educação básica e também sobre cada grande área de aprendizagem, com eixos formativos e diretrizes específicas para cada uma delas.
BNCC atualizada: como sua escola pode lidar com esse documento em 2023?
Os dois fundamentos pedagógicos apresentam, de forma geral, como a escola deve se adaptar para seguir as diretrizes da BNCC. Basicamente, ela determina que a instituição de ensino deixe para trás a educação apenas conteudista e foque seus esforços em um ensino baseado em competências e direcionado à formação integral do cidadão.
Para mudar esses pontos na prática, é interessante consultar o texto integral da BNCC e conferir o que ele determina para cada fase educacional e também para cada área de ensino.
A partir disso, sua escola deve trabalhar na atualização do currículo escolar, na adequação do Projeto Político Pedagógico (PPP) e na elaboração de planos de aula que estejam de acordo com as diretrizes recomendadas pela BNCC.
Essas alterações devem, sempre, integrar as competências da nova Base Nacional Comum Curricular com características regionais e particularidades de sua escola.
Além disso, é fundamental garantir a formação continuada dos professores, para que estejam sempre preparados para oferecer um ensino atualizado e adequado às demandas da educação integral proposta pela BNCC.
Isso também vale para o material didático a ser aplicado nas aulas, que deve acompanhar as tendências da tecnologia e da transformação digital.
Da mesma forma, é interessante contar com essa transformação digital na própria coordenação, com um sistema de gestão escolar. Essa tecnologia age para melhorar o trabalho pedagógico e organizacional da instituição, ajudando sua equipe a ter o tempo e as ferramentas necessários para seguir as definições da BNCC.
Por fim, gestores, diretores, pedagogos e professores precisam entender que o ensino proposto pela BNCC exige uma atualização constante. A escola deve acompanhar as novidades e as tendências — tanto da educação quanto da sociedade — para manter a qualidade da aprendizagem de seus alunos.
Isso envolve, inclusive, adaptações como o novo Ensino Médio. Leia mais sobre essa transformação:
Como a BNCC vai mudar o processo de alfabetização?
Uma das grandes mudanças trazidas pela BNCC em relação ao Ensino Infantil, foi o adiantamento do processo de alfabetização — que antes deveria ocorrer até o terceiro ano do ensino fundamental e agora deve acontecer até o fim do segundo.
Além disso, o documento da BNCC orienta que os alunos sejam inseridos em práticas modernas de expressão, com o intuito de mostrar que não há apenas uma forma de escrita ou oralidade.
Nessas práticas modernas de expressão, inclui-se adaptar a metodologia de ensino utilizando-se também do letramento digital, abrindo um leque de possibilidades de produção de linguagem para os estudantes.
Os alunos na fase de alfabetização nasceram na era digital e, por isso, os equipamentos tecnológicos já foram incorporados no seu dia a dia de forma natural.
Dessa forma, utilizar a tecnologia como aliada no processo de aprendizagem desses estudantes é uma forma facilitada de ajudá-los no seu processo de aquisição das habilidades de leitura e escrita.
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O planejamento pedagógico para a alfabetização, portanto, deve mergulhar neste universo tecnológico, buscando maneiras e incentivos para que as crianças leiam, escrevam, explorem novas linguagens e se expressem.
Como adaptar a nova Base Nacional Comum Curricular às aulas online e ao ensino híbrido?
Pouco tempo depois da homologação da BNCC, uma situação alheia às escolas obrigou-as a mudar profundamente sua forma de ensinar.
Foi a pandemia do coronavírus, que fechou instituições no país inteiro entre os anos de 2020 e 2021 e forçou as salas de aula a migrarem para um ambiente online.
A pandemia passou e as escolas voltaram a abrir as portas. Mas o aprendizado dessa época ficou e pavimentou o caminho para as possibilidades de um ensino híbrido, que ajuda a democratizar o acesso à educação e também pode melhorar os resultados de sua instituição.
Contudo, essa forma de ensino — não prevista dessa forma pela BNCC — também precisa seguir as diretrizes do documento.
A boa notícia é que essa adaptação não é difícil.
- Primeiro, a escola precisa de um ambiente online adequado para seus alunos.
- Na sequência, é fundamental contar com professores capacitados para esse modelo de ensino.
A partir desses dois princípios básicos, é hora de revisitar a BNCC, avaliando todas as diretrizes para disciplinas e áreas de conhecimento, com foco principalmente nas competências propostas pelo documento.
São essas competências que guiarão as adaptações das dinâmicas do ensino presencial para o ensino online, a fim de manter as atividades alinhadas com o que pede a Base Nacional Comum Curricular.
Um exemplo nesse sentido está nas duas primeiras competências, que tratam da importância da valorização da curiosidade intelectual, do próprio conhecimento e de sua utilização.
O ensino híbrido já tem em sua essência o incentivo à autonomia do aluno em relação ao seu próprio processo de aprendizado.
Portanto, a utilização de dinâmicas em aula que estimulem a proatividade e o protagonismo do aluno na busca de conhecimento é essencial para alcançar esses valores abordados nas competências gerais.
Obviamente, o professor deve sempre estar na posição de mentor e orientador, garantindo que o conhecimento adquirido não seja incompleto ou mesmo equivocado.
Outro ponto essencial está na quinta competência, que trata especificamente do uso das tecnologias digitais de informação e de comunicação. Os alunos devem aprender a utilizar essas inovações de forma responsável, consciente, reflexiva e ética.
Como os alunos estão inseridos mais do que nunca no meio digital, esta é a oportunidade de trabalhar essas questões com eles.
Através de debates e rodas de conversa propostas tanto por professores quanto por iniciativa da gestão escolar e pedagógica, é possível trazer à tona assuntos essenciais para a reflexão dos alunos no meio digital, como “responsabilidade na web”, “fake news”, “cyberbullying”, entre outros.
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Fazer isso dentro de um ambiente online faz todo sentido, sobretudo atualmente, com uma juventude cada vez mais conectada.
A BNCC também cita o respeito à cultura, à diversidade e às manifestações artísticas. Isso também deve estar presente no ensino híbrido, como um dos principais focos de professores e pedagogos.
Ter o dia a dia do aluno na internet como ponto de partida para discussões que contemplem os valores trazidos nas competências gerais da BNCC é justamente o que se espera dos modelos de ensino contemporâneos.
Essa prática — junto com as outras discutidas neste texto — estende a educação para além dos muros da escola, atendendo também à exigência de um ensino mais integral, que forme cidadãos plenos, seja nas aulas tradicionais, seja no modelo híbrido.
Carla Helena Lange
Líder de Marketing