Todo educador sabe o quanto o letramento é importante no ensino. No entanto, em meio às linguagens múltiplas presentes na sociedade atual, é preciso dar um passo a mais e aplicar o multiletramento.
Afinal, ler e escrever não são as únicas formas de transmitir e receber informações. Há várias outras, desde a comunicação oral até o uso das mídias digitais, e seus alunos precisam ser capazes de utilizar efetivamente todas elas — com senso crítico e capacidade de interpretação.
Você conhece esse conceito? Sabe como ele pode ajudar seus alunos a se prepararem para o futuro?
Continue a leitura e entenda mais sobre as práticas educativas do multiletramento, que vão além da leitura e da escrita e envolvem linguagens múltiplas na aprendizagem.
A alfabetização e o letramento são duas práticas educacionais que andam lado a lado na aprendizagem. Como você já sabe, enquanto a alfabetização ensina a ler e escrever, o letramento busca apresentar às crianças e adolescentes a função social da leitura e da escrita.
No entanto, a sociedade muda constantemente. O mundo de hoje não é o mesmo de quando se estabeleceram essas duas estratégias, então, para ensinar a função social do letramento de maneira efetiva, sua gestão pedagógica deve levar para esse processo as linguagens múltiplas que compõem a realidade atual.
Isso é o multiletramento, uma prática educativa focada em desenvolver as habilidades sociais vinculadas à leitura e à escrita, mas de forma mais ampla, trabalhando com diferentes linguagens, suportes visuais, redes sociais, método fônico e mais.
Além disso, é um método que deve se atualizar constantemente, acompanhando as mudanças de linguagem presentes na sociedade e as possibilidades da tecnologia educacional.
O conceito de multiletramento também envolve a diversidade cultural presente na sociedade, expandindo ainda mais as abordagens tradicionais que focavam o letramento apenas no texto escrito.
O conceito de multiletramento, como proposta pedagógica, surgiu ainda em 1996 a partir de uma conferência internacional de alfabetizadores sediada em New London, nos Estados Unidos.
A preocupação à época era o impacto do desenvolvimento da tecnologia no cenário da alfabetização e do letramento. Nesse período, ainda não havia o conceito de redes sociais digitais, mas a internet já estava presente e começava a se popularizar de fato.
Portanto, para os estudiosos, o letramento não podia mais se limitar à língua escrita baseada em papel. Livros e cadernos ainda deveriam manter sua importância, mas havia um espaço muito grande para outras linguagens e para a tecnologia no cenário da alfabetização e letramento.
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A partir disso, o grupo, que foi chamado de “The New London Group”, apresentou a ideia de multiletramento como uma proposta pedagógica que levaria em conta os muitos modos e as múltiplas linguagens com que a informação é compartilhada.
Como acabamos de ver, o multiletramento nasceu a partir da preocupação com o impacto da tecnologia na comunicação. No entanto, ele não se limita a abordar apenas linguagens digitais em sua proposta pedagógica.
De fato, o próprio conceito se baseia em linguagens múltiplas, mantendo claramente a importância da linguagem escrita com que os alunos, professores, gestores e coordenadores pedagógicos já estão acostumados.
Ou seja, o multiletramento considera a relevância dos livros didáticos, dos cadernos e da literatura para o desenvolvimento dos alunos. Sem falar que a escrita também é uma das bases da comunicação digital.
Além dela, há uma preocupação com a linguagem oral, que valoriza tanto a preservação das culturas quanto o uso atual da fala na comunicação.
A linguagem visual também tem um lugar de destaque na proposta pedagógica, principalmente devido a sua crescente importância na comunicação digital, além de seu uso na arte, que é fundamental no letramento.
O mesmo vale para a linguagem sonora, que está presente no mundo digital e também na arte e na cultura.
O multiletramento também considera:
Essas linguagens múltiplas potencializam a proposta pedagógica do multiletramento, que não se propõe a apenas ensinar a comunicação, mas também a desenvolver sua função social dentro da diversidade presente na nossa comunidade.
O conceito de multiletramento está presente na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o documento do Ministério da Educação que norteia os currículos e propostas pedagógicas das escolas do País.
Segundo a BNCC:
“As práticas de leitura e produção de textos que são construídos a partir de diferentes linguagens ou semioses são consideradas práticas de multiletramentos, na medida em que exigem letramentos em diversas linguagens.”
A partir dessa proposta — junto a ideias de novos letramentos e práticas da cultura digital no currículo — a BNCC afirma que busca “contemplar a cultura digital, diferentes linguagens e diferentes letramentos”.
“Da mesma maneira, imbricada à questão dos multiletramentos, essa proposta considera, como uma de suas premissas, a diversidade cultural”, afirma o documento.
A BNCC também apresenta o conceito ao discutir o uso da tecnologia educacional, apresentando competências que permitem ao estudante:
“Apropriar-se das linguagens da cultura digital, dos novos letramentos e dos multiletramentos para explorar e produzir conteúdos em diversas mídias, ampliando as possibilidades de acesso à ciência, à tecnologia, à cultura e ao trabalho”.
Ela destaca, contudo, que “ a necessária assunção dos multiletramentos não deve apagar o compromisso das escolas com os letramentos locais”.
Segundo o documento, é preciso “garantir que as juventudes se reconheçam em suas pertenças culturais, com a valorização das práticas locais, e que seja garantido o direito de acesso às práticas dos letramentos valorizados”.
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O multiletramento parte do entendimento de que as crianças e adolescentes de hoje têm uma amplitude maior de canais de informação e interação. O aprendizado, portanto, deve ir muito além do ler e escrever.
Por meio de práticas educativas que abordem essas linguagens múltiplas, sua escola colherá benefícios como:
A abertura para linguagens múltiplas não diz respeito apenas a canais de comunicação, mas também a formas, culturas e expressões diferentes, que expandem a compreensão do aluno e fortalecem a pluralidade, a inclusão e a diversidade no ambiente escolar.
Com educação adequada a respeito dos novos canais de comunicação e dos contextos culturais, a escola amplia os horizontes do aluno, que se torna capaz de se expressar e comunicar de maneira muito mais livre e expressiva, com um alcance maior.
Um dos maiores problemas da comunicação digital é o espaço que ela fornece para informações falsas ou enganosas. Por meio de um multiletramento apropriado, os alunos terão as ferramentas para interpretar o conteúdo de maneira informada e evitar esse risco.
Com a expansão oferecida pelas linguagens múltiplas, o aluno alimenta sua criatividade e também seu pensamento crítico.
Vivemos em um mundo cada vez mais digital, e seu aluno precisa estar preparado para atuar nesse ambiente de forma autônoma, informada e efetiva. O multiletramento é uma das ferramentas mais importantes para isso.
O multiletramento também potencializa a relação com outras disciplinas e com o aprendizado como um todo.
Com tudo isso, seu aluno estará mais pronto para os desafios e as oportunidades do futuro.
Confira a palestra de Henrique Tichauer, Sócio e Fundador da EXP – Inteligência Educacional, sobre como gestores, coordenadores pedagógicos e professores podem ajudar a preparar alunos para o futuro:
O conceito de multiletramento apresentado pelo “New London Group” propõe que, para realmente apreender as linguagens múltiplas, os alunos devem passar por quatro diferentes práticas educativas.
Apesar de o estudo ser de 1966, todas essas práticas ainda são úteis, mas devem ser usadas considerando o contexto e as linguagens atuais, com diferentes canais e formas de expressão.
Para que isso seja efetivo, é importante integrar o multiletramento no currículo escolar e no planejamento pedagógico de sua escola. Esse é, inclusive, um dos importante passos para ter uma escola preparada para o futuro.
Confira mais informações sobre como desenvolver uma instituição de ensino capaz de ensinar no ambiente mutável e rápido do mundo digital: