Ter alunos tímidos é muito comum. Crianças entrando na escola pela primeira vez, adolescentes passando pela puberdade, estudantes mudando de turma e conhecendo outros colegas… todas essas situações comuns causam timidez na escola.
Há problemas, contudo, quando essa timidez se torna um obstáculo no ambiente escolar, prejudicando tanto os alunos tímidos quanto os seus colegas. Nesse momento, a escola deve agir para criar um ambiente produtivo, educativo e acolhedor para todos.
Para te ajudar nesse objetivo, este texto vai abordar a realidade da timidez em sala de aula, mas sem estereótipos ou ideias pré-concebidas. Não podemos tratar a introversão como um “defeito” da criança.
Ela é, na verdade, uma característica de sua personalidade que deve ser respeitada, como parte da diversidade que compõe uma escola de educação básica.
Por isso, é preciso entender de fato essas diferenças, ajudar seus alunos a sentirem-se bem com quem são e preparar sua escola para ser mais diversa e inclusiva, com metodologias e práticas adequadas para ensinar diferentes tipos de estudantes.
Continue sua leitura e entenda mais.
A timidez na escola, geralmente, não é um problema para a gestão pedagógica ou para o aprendizado de um estudante. No entanto, quando é severa e constante, ela pode tornar-se um obstáculo para o aluno.
Alunos muito tímidos podem ter receio na hora de tirar dúvidas com os professores, o que prejudica sua absorção do conhecimento e a execução de tarefas e atividades.
Em situações mais sérias, esses alunos ainda podem ter dificuldade em criar laços com os colegas, o que é um obstáculo não só para seu desenvolvimento social, mas também para a execução de muitas das novas metodologias escolares que preconizam a interação e a construção do conhecimento de forma coletiva.
Leia mais: Metodologias ativas de aprendizagem: saiba o que são e como incluí-las em sua escola.
A timidez também tem uma relação de retroalimentação com a insegurança. Um aluno tímido não se sente seguro para realizar atividades, então isso prejudica sua autoestima, o que leva a mais timidez e aumenta a dificuldade dele em se relacionar com os demais e em ter produtividade em sala de aula.
No longo prazo, se não for trabalhada, essa timidez severa ainda prejudica seu desenvolvimento social e serve como um obstáculo para o aluno se relacionar com os demais, se posicionar no mundo do trabalho e até buscar objetivos pessoais.
Timidez e saúde mental
Muitas vezes, a timidez é sintoma de transtornos de saúde mental, como depressão e ansiedade. E mesmo quando não tem relação direta com eles, pode levar o aluno a desenvolver esses quadros mais problemáticos.
Esse é mais um motivo para dar uma atenção extra aos alunos tímidos e acolhê-los em sua escola.
Leia mais: Saúde mental na escola: como identificar problemas e cuidar de seus alunos.
Já usamos neste texto os conceitos de introversão e timidez na escola, porque ambos são semelhantes e precisam ser observados pela equipe pedagógica na educação básica. No entanto, eles não são sinônimos.
Crianças e adolescentes introvertidos são aqueles mais reservados. Eles falam um pouco mais baixo, não interagem com tanta facilidade e geralmente têm menos amigos, mas costumam formar laços muito fortes com eles.
Esses alunos preferem fazer atividades individuais ou, quando precisam atuar em grupo, sentem-se muito mais confortáveis trabalhando com os amigos do que com colegas menos próximos.
Muitos alunos introvertidos gostam de ler ou são ávidos usuários da internet ou de jogos digitais. Eles também costumam ser bons ouvintes e mais comportados do que alunos extrovertidos (é claro que há exceções).
Os alunos tímidos têm características muito semelhantes. A grande diferença, contudo, é a insegurança.
Enquanto a introversão não significa, necessariamente, uma dificuldade na relação com os demais, a timidez tem uma carga um pouco mais negativa. O dicionário Michaelis, por exemplo, a descreve como um “acanhamento excessivo”.
O aluno tímido mostra introspecção, mas isso acaba sendo um motivo de frustração. Ele gostaria de ser mais disposto, de interagir mais, de perguntar coisas ao professor, mas acaba — para parafrasear a descrição do Michaelis — excessivamente acanhado.
Esses estudantes tímidos, às vezes, têm dificuldade para construir o pequeno grupo de amigos que é comum aos introvertidos, o que prejudica sua vivência e sua experiência escolar.
Sua disposição mais reservada pode até levá-los a serem alvos de bullying, o que piora ainda mais sua situação.
Mas, é claro, precisamos lembrar que essa diferenciação é mais semântica do que prática. Não há uma clara separação entre alunos tímidos e introvertidos. A maioria possui níveis de ambas as características e é importante ter um tratamento respeitoso com todos, buscando uma experiência positiva seja qual for sua situação.
Leia também: Como trabalhar as diferenças na escola e promover o respeito entre os alunos.
Déficit de atenção
Uma diferenciação importante que deve ser feita na gestão pedagógica é a dos alunos que possuem déficit de atenção (TDAH). Crianças e adolescentes com esse transtorno muitas vezes são vistos como tímidos demais, ou, no outro espectro, excessivamente extrovertidos.
Busque identificar o TDAH em seus estudantes e trabalhar para oferecer um ambiente acolhedor também para eles.
Saiba mais: Como sua escola pode ajudar alunos com TDAH.
Como vimos, a introspecção é uma característica natural, que não deve prejudicar o desenvolvimento do aluno ou sua vivência escolar. No entanto, é preciso que a gestão pedagógica organize-se para garantir esse cuidado.
Afinal, os conceitos e as tendências da educação do futuro preconizam muito metodologias ativas, com maior interação entre alunos, atuação nas aulas, apresentação de resultados e outras atividades desse gênero.
E isso é ótimo! O incentivo à participação potencializa a formação de cidadãos plenos e preparados para os desafios do futuro.
No entanto, é preciso levar em conta que para os alunos introspectivos, essas metodologias podem ser um desafio muito maior. E ter de apresentar-se em frente à turma, participar de debates e apresentar conclusões é ainda mais assustador em casos de timidez.
Por isso, lembre-se de ter cuidado ao trabalhar com essas práticas. Elas são indispensáveis e importantes para o futuro da sua escola, mas não precisam ser impostas de forma padronizada para todos.
Opte por um ensino humanizado, que entenda as necessidades de cada estudante. Assim, suas aulas serão mais inclusivas, acolhedoras e até produtivas para todos.
Leia também: O que é educação inclusiva e qual a sua importância para as escolas?
Se a timidez excessiva pode ser um desafio para os estudantes aproveitarem seu próprio aprendizado, é importante que a escola busque formas de ajudá-los a superar essa dificuldade — respeitando sempre a individualidade e as características de cada um deles.
Algumas boas práticas nesse sentido são:
Falar com a família do aluno é uma ótima forma de compreendê-lo melhor e de criar uma atuação conjunta para ajudá-lo a se desenvolver. Por isso, busque engajar toda a comunidade escolar nos objetivos da escola.
Se seu aluno apresenta sinais de timidez, tente entender quais são os motivos e como isso afeta a vida dele.
Se ele é simplesmente introspectivo, tem amigos e está se desenvolvendo bem, a escola pode simplesmente apoiá-lo. Por outro lado, se ele tem uma timidez mais severa, que o prejudica, é o caso de buscar outras soluções e até o apoio profissional (mais sobre isso abaixo).
É importante, também, avaliar a origem da timidez. Ela pode ser causada por bullying, problemas familiares, transtornos de saúde mental ou outras questões que devem ser tratadas para garantir o bem-estar de seus estudantes.
Um passo importante para ajudar alunos tímidos é mostrar para eles que sua equipe pedagógica o entende. Demonstre acolhimento, entenda o que ele precisa para se sentir mais à vontade e tente oferecer um ambiente escolar que lhe seja agradável.
Em casos mais sérios, recomende a alunos, pais e responsáveis a consulta com profissionais de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras. Essa atenção capacitada pode ajudar muito no desenvolvimento pessoal e social de seus estudantes.
Às vezes a timidez tem muito a ver com insegurança e baixa autoestima. Por isso, procure elogiar seus alunos, mostre para eles como eles vêm evoluindo na escola e ajude-os a acreditarem em si próprios.
Muitos alunos sentem-se mais tímidos ao perceberem que “não cabem na caixinha” padrão das crianças e adolescentes da sua idade. Para combater essa sensação, celebre a diversidade da escola.
Incentive seus professores e a equipe pedagógica a falarem sobre o assunto e realizarem atividades que mostrem a beleza e a importância dessas diferenças.
Leia também: Como sua escola pode ser mais diversa e inclusiva?
Um risco grande na gestão pedagógica é tratar um estudante como “o aluno tímido”. Isso reforça nele essa característica e pode fazer com que ele se aprofunde cada vez mais nela.
O mesmo vale para “o aluno bagunceiro”, “o aluno briguento” e até “o aluno estudioso”. Seja qual for o rótulo, ele acaba tirando do estudante sua individualidade e liberdade de construir uma personalidade para si próprio e evoluir.
Apenas acolher a timidez não é o suficiente quando ela é excessiva e prejudicial ao estudante. Nesses casos, é importante ajudá-lo a mudar.
Para isso, incentive a socialização dele por meio de atividades em duplas, apresentações para a classe e até debates, mas sempre de maneira cuidadosa, para não expô-lo de uma vez só a muitas situações que o deixem embaraçado.
Uma fórmula interessante é descobrir temas que são do interesse desse estudante e dar atividades que se relacionam com eles. Isso pode fazer com que ele se manifeste muito mais à vontade com os demais.
Entender a timidez na escola e ajudar seus alunos a lidar com ela é muito importante. Esse é um dos passos centrais para ter uma escola mais inclusiva e diversa, que forme cidadãos conscientes e preparados para o futuro.
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