A pedagogia de Paulo Freire propõe a emancipação dos alunos, a horizontalidade em sala de aula e a valorização do contexto do estudante nas lições.
A pedagogia de Paulo Freire está entre as principais abordagens pedagógicas com influências no Brasil e no mundo. Ela se origina de textos e experiências do educador brasileiro, que propõe uma educação emancipadora, que leva em conta o contexto em que o aluno está inserido.
Apesar de a abordagem freiriana ter nascido a partir de projetos de alfabetização para adultos, muitas de suas propostas pedagógicas têm sido aplicadas na educação básica internacionalmente.
Continue a leitura, entenda melhor a origem dessas práticas pedagógicas e veja como elas são aplicadas hoje.
Quem foi Paulo Freire e como surgiu a abordagem freiriana?
Desde 2012, Paulo Freire é considerado o patrono da Educação no Brasil. Nascido no Recife em 1921, ele atuou a vida toda em prol da educação do país, com um foco especial no combate ao analfabetismo.
Para Freire, a educação e a alfabetização eram ferramentas libertadoras para o povo.
Uma de suas primeiras grandes experiências educacionais ocorreu em Angicos, no Rio Grande do Norte, onde suas práticas pedagógicas alfabetizaram 300 trabalhadores dos canaviais em 45 dias de aulas.
Depois de ser preso no início da ditadura militar brasileira, Paulo Freire exilou-se e passou a levar suas experiências pedagógicas ao resto do mundo.
Nesse ínterim, atuou junto à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), lecionou na universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e trabalhou nos Conselhos de Educação Popular do Conselho Mundial de Igrejas na Suíça.
Além disso, em Genebra, fundou um instituto para incentivar a alfabetização para adultos de países do hemisfério sul.
Depois, em 1980, Paulo Freire voltou ao Brasil e seguiu tanto com suas pesquisas quanto no trabalho para alfabetização de adultos.
A partir dessas pesquisas teóricas e experiências práticas nasceu o que se conhece hoje como a pedagogia de Paulo Freire. Entenda:
O que é a metodologia de Paulo Freire?
Como vimos, a abordagem freiriana da educação nasceu especificamente de propostas e experiências para alfabetização de adultos.
No entanto, os conceitos abordados pelo educador e as descobertas obtidas por suas experiências podem ser — e já são, em muitos lugares — aplicados a outros segmentos educacionais.
Ainda que não exista um “método Paulo Freire” proposto pelo próprio educador, as práticas pedagógicas apresentadas por ele buscam educar de uma maneira conectada à realidade dos estudantes, com temas ligados ao contexto em que eles estão inseridos, e sempre com responsabilidade social.
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Dessa forma, Freire considera que a educação deve ser um “ato político”, ao incentivar o pensamento crítico do aluno e a compreensão de seu papel social.
Para tudo isso, a abordagem pedagógica de Paulo Freire ainda preconiza o diálogo entre o aluno e o professor, em um ambiente educacional propício para metodologias ativas de ensino.
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Apesar de não tratar suas práticas pedagógicas como um método de ensino, o educador apresentou princípios e etapas que podem servir como guias nesse processo. Tanto que o método “Paulo Freire” já se tornou um termo usado por escolas no mundo todo.
Vamos conferir um pouco dessas etapas no próximo tópico:
Os “momentos” do modelo pedagógico de Paulo Freire
As práticas pedagógicas propostas pelo educador podem se dividir em três diferentes “momentos”. Essas etapas foram pensadas inicialmente para a alfabetização de adultos, mas podem ser usadas também na educação básica, por exemplo. Confira:
1. Investigação Temática
O primeiro momento do modelo pedagógico de Paulo Freire começa com a localização e a entrevista de analfabetos presentes em determinada área, além de outros adultos mais antigos ou conhecedores da realidade local.
A partir dessas conversas, os educadores levantam quais palavras são mais usadas na região e também avaliam como essas pessoas percebem sua própria realidade. É um “mergulho” na vida do educando.
Isso pode ser feito também em uma escola de educação básica. Sua equipe pode conversar com os alunos, buscar ver a realidade pelos seus olhos e, então, construir práticas pedagógicas que tenham maior impacto e ressonância entre eles.
2. Tematização
A partir da investigação, é possível definir um “tema gerador geral”, que é um ponto de partida para o ensino que está conectado à realidade dos alunos. Desse tema, devem surgir ainda “palavras geradoras”, que são temas específicos para ampliar o ensino.
Com isso, os professores e pedagogos podem aproximar os alunos da aprendizagem e despertar seu interesse. Além de avançar para além desse conhecimento prévio, mostrando aos alunos as grandes possibilidades que podem se abrir por meio do aprendizado escolar.
3. Problematização
Neste ponto, Paulo Freire propõe abordar os problemas e incoerências da realidade em que o aluno está inserido, de modo a ajudar a superar uma visão inicial que muitas vezes pode ser ingênua, ou estar muito sedimentada de ideias pré-concebidas.
A ideia é incentivar o pensamento crítico do estudante, além de mostrar que ele tem o poder de agir em sua sociedade de forma efetiva, como um agente de transformação.
As críticas de Paulo Freire ao modelo “bancário” de educação
Um dos principais pontos da pedagógica de Paulo Freire era sua clara crítica aos métodos tradicionais de ensino, que ele tratava como o modelo “bancário” de educação.
Segundo o educador, esses métodos tratam o professor com um detentor do conhecimento, enquanto os alunos seriam “depositórios”, ou “objetos receptores” onde esse conhecimento deveria ser armazenado.
Ele vê essa forma de educação como uma tentativa de controlar os estudantes e ajustá-los ao mundo, inibindo seu pensamento crítico e seu poder criativo.
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A função do professor na pedagogia de Paulo Freire
A partir do princípio de que o professor não deve ser tratado como detentor de todo o conhecimento, a abordagem freiriana propõe um diálogo entre educador e aluno, tendo o estudante como um protagonista do próprio aprendizado.
Nesse contexto, o conhecimento que os alunos já têm é valioso, e deve ser levado em conta para a educação. Como já vimos, ele deve servir como um ponto de partida, para lançar o ensino a patamares ainda mais elevados.
Então, a educação deve funcionar como uma troca e o aprendizado deve ser desenvolvido diariamente, a partir das reações e conversar com os estudantes.
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Qual é a importância da metodologia de Paulo Freire na educação brasileira e internacional?
Paulo Freire está entre os intelectuais brasileiros mais reconhecidos em todo o mundo. Ele foi agraciado com dezenas de títulos e honrarias em universidades e organizações internacionais pelas suas contribuições à educação.
Durante sua vida, Freire lecionou, deu palestras e trabalhou junto a governos e organizações como uma verdadeira referência no ensino. Essa atuação garantiu seu reconhecimento como patrono da Educação brasileira desde 2012.
Atualmente, a abordagem freiriana é usada de forma mais direta em projetos de educação social no mundo todo. Isso inclui alfabetização de jovens e adultos, ressocialização de presos, integração de imigrantes, acolhimento de jovens em situação de vulnerabilidade e educação popular.
No entanto, os conceitos explorados pelo educador têm influência em várias outras metodologias, sendo aproveitados de forma mais pontual em escolas de diversos segmentos, inclusive na educação básica.
Como escolher as melhores práticas pedagógicas para sua escola?
Conhecer diferentes metodologias, abordagens e práticas pedagógicas é importantíssimo para melhorar constantemente o ensino em uma escola de educação básica.
A abordagem pedagógica de Paulo Freire, por exemplo, apresenta muitos conceitos que podem potencializar o aprendizado de crianças e adolescentes — por mais que seu foco seja mais direcionado à alfabetização de adultos.
Mas é importante ir além. Aqui no blog da Sponte, já publicamos um texto que abrange as principais abordagens pedagógicas que sua escola precisa conhecer. Confira:
🔎 Leia mais: Quais são as principais abordagens pedagógicas e como escolher a melhor para sua escola?
Ter esse conhecimento, no entanto, é só o primeiro passo. A partir dele, sua equipe pedagógica deve avaliar seu projeto político-pedagógico, analisar a missão da escola e conhecer seu público, para escolher as abordagens mais apropriadas e oferecer o melhor ensino possível.
Carla Helena Lange
Líder de Marketing